Em anos anteriores, nesta época, a casa do aposentado Nilson José Nunes,
66 anos, e da esposa, a dona de casa Solange dos Santos Nunes, 62 anos, no Bairro Agronomia, na Capital, vivia a efervescência dos preparativos para o Carnaval.
Bambistas apaixonados, curtiam a chegada das fantasias dos filhos, que foram ritmistas da Bambas da Orgia, frequentavam os ensaios e se preparavam para a maratona de desfiles no Sambódromo do Porto Seco. Com a alteração da data das apresentações das escolas de samba, devido à crise financeira, estão desapontados.
– É muito estranho. Carnaval fora de época não cola para mim. Não sei como vai ser (o feriadão), mas vai ser triste – lamenta Nilson.
A empolgação com os desfiles era tanta, que a família participava de uma saudável competição com outra turma igualmente apaixonada pelo Carnaval, mas torcedora da Imperadores do Samba: eles disputavam para ver quem compraria o primeiro ingresso para os desfiles.
Para garantir esse feito, Solange conta que costumava ir para frente do Ginásio Tesourinha (e depois para o Centro Municipal de Cultura) três dias antes do início das vendas.
– A gente ia antes porque gostava da diversão. Durante três anos, fui a primeira a comprar ingressos – conta Solange.
Por conta do receio da violência, as madrugadas na fila por ingresso deixaram de existir. Mas a ida com antecedência para o Sambódromo permaneceu, até para garantir o melhor lugar nas arquibancadas, bem pertinho do recuo da bateria.
– A gente levava galinha com farofa, sanduíche, pastel, bolinho. Era aquela torcida toda. Fiquei chateada de não ter desfile agora. Cadê o nosso Carnaval? _ reclama Solange.
Vai ser no sofá de casa que o casal – que ostenta 43 anos de casados, uma relação que inclusive teve início na quadra da Bambas da Orgia – vai assistir pela tevê o pulsar das baterias das escolas paulistas e cariocas. Os filhos estão no Rio de Janeiro.
– A gente se prepara, faz tira-gosto e até brinda – diverte-se Solange, que é portelense de coração. Embora se sinta magoado e aborrecido com a atual situação do Carnaval de Porto Alegre, quando chegar a data dos desfiles das escolas de samba da Capital, Nilson estará no Porto Seco com a família, apoiando a Azul-e-Branco:
– A gente vai para ver a nossa escola. Tenho mais alegrias que tristezas e continuo com a mesma emoção, como se saísse pela primeira vez na Bambas da Orgia.