O metalúrgico Cledimir Martins Berny, 51 anos, tentou negociar com o banco no qual tinha conta corrente e cartão de crédito por quatro meses. Foi a tentativa de resistir a uma dívida que superava os R$ 5 mil.
– Passei por três gerentes diferentes para tentar negociar. Chegaram a mandar mensagem de cobrança para a minha irmã, que não tinha nada a ver com o caso – lembra o morador do Bairro Rubem Berta, Zona Norte de Porto Alegre.
A instituição financeira não deu alívio e fez jogo duro. A única proposta era quitar o que devia. A resistência de Cledimir durou até esta semana, quando usou uma reserva que tinha para terminar com o débito.
– Preciso do meu nome limpo, podia entrar na Justiça, mas quanto tempo levaria? Agora, não quero nada com esse banco – promete ele.
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Sem conversa
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou pesquisa realizada com internautas sobre dívidas com os bancos. Mais de 60% deles tentaram renegociar e não conseguiram.
– E o vilão das dívidas é o cartão de crédito e o cheque especial. As pessoas precisam fazer um diagnóstico completo da situação de endividamento para sair disso – a economista do Instituto e responsável pela pesquisa, Ione Amorim.
Questionadas pelo Idec, as instituições não apresentaram respostas efetivas sobre a queixa. Foram consultadas as cinco instituições mais lembradas na pesquisa: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Federal, Itaú e Santander.
– O importante é o cliente sentar na frente do gerente dele. Esse contato é fundamental, por mais canais que o banco ofereça. Aqui, no Procon, auxiliamos nisso se a pessoa não conseguir – afirma o diretor-executivo do Procon da Capital, Cauê Vieira.
Entre os cuidados para não piorar a situação está evitar trocar uma dívida por outra, com juros mais altos, que pode criar um ciclo ainda pior de endividamento. O advogado Jamil Abdo alerta para as cobranças abusivas, como a que Cledimir recebeu.
– Chegam a ser agressivos, ligam para vizinhos cobrando. As pessoas ficam entre comer e pagar o banco. Poucos procuram o judiciário. E nossa experiência mostra que 90% dos que entram na Justiça ganham as causas – avalia.
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Preste atenção ao renegociar:
1 – Liste todas as despesas mensais: água, luz, telefone, internet, alimentação e verifique quais são as dívidas, como cartão de crédito, cheque especial, financiamento e etc.
2 – Nada de telefone, vá à agência e procure pelo gerente da sua conta. Esse contato individual é importante.
3 – Solicite dados detalhados da dívida como saldo devedor atualizado, encargos, total de parcelas pagas e faltantes, taxa de juros contratada e período de inadimplência.
4 – Esteja certo de que poderá pagar o que vai propor. Não adianta renegociar e depois começar a dever de novo, pode piorar a situação.
5 – Peça o cancelamento do cartão de crédito e cheque especial até que consiga se equilibrar nas finanças.
6 – Nunca aceite a primeira proposta do credor, mesmo que ele diga que não tem alçada para negociar um valor mais baixo. Faça a contraproposta, é importante que fique registrado que você busca pagar.
7 – Só faça parcelamento se as taxas forem de valor fixo e não contenham ainda mais juros embutidos, senão, a dívida pode ficar ainda maior do que antes.
Fontes: advogado Lisandro Adames, especialista em direitos do consumidor, advogado Jamil Abdo, economista Ione Amorim e Procon/POA
Jogo duro
O que fazer quando não avança a negociação da dívida com o banco
Mais de 60% dos consumidores não conseguem renegociar com essas instituições financeiras. Saída pode ser buscar mediação judicial.
Leandro Rodrigues
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