Foi de beca, capelo e salto alto que Gustavo Rodrigues Costa, 21 anos, recebeu o sonhado canudo indicando sua formatura no curso de Relações Internacionais (RI) na Unipampa. Na escolha pelo sapato, um pouco de preferência pessoal – Gustavo gosta de usar salto em festas, para dançar – e outro tanto de conscientização: ele classifica o ato como uma espécie de "protesto".
– Fiz isso para deixar claro que pessoas com identidades de gênero diferentes, socialmente vistas como divergentes, estão ocupando cada vez mais espaço, e também para trazer para debate temas como violência de gênero e preconceito – afirma o recém-graduado.
A cerimônia foi realizada em 10 de fevereiro em Santana do Livramento, cidade onde o paulistano foi morar, sozinho, após ser aprovado na universidade. Ele cursou Relações Internacionais entre 2013 e 2016, e voltou a São Paulo logo após a formatura. É lá que mora agora com a família que, segundo ele, sempre o apoiou. Foi assim também com os colegas, especialmente na colação de grau.
– Me apoiaram demais, muito, muito muito. O pessoal de RI não sabia (que ele usaria salto alto na cerimônia), só os amigos mais próximos. Mas quem viu ficou super de boa, ouvi várias palavras legais, apesar de alguns olhares feios – diz Gustavo.
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Usar salto alto não chega a ser um hábito para o jovem, mas ele afirma que gosta de usar os sapatos das amigas quando vai a festas e a celebrações diversas. O salto que usou na cerimônia, porém, era dele: um presente da mãe que "ficou um pouco relutante no começo, mas viu que não ia mudar de ideia e apoiou", segundo ele.
Em dezembro, em protesto semelhante, o então aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Talles de Oliveira Faria também aproveitou a cerimônia de formatura para chamar atenção para as causas homossexuais. De vestido e salto alto, ele se manifestou contra a "violência psicológica" que teria sofrido na instituição.