O fim da chamada "bola de neve" da dívida do cartão de crédito precisa ser visto com muita atenção por quem costuma fazer compras. A medida, confirmada quinta-feira pelo Conselho Monetário Nacional é considerada positiva por especialistas, mas pode virar uma armadilha para quem interpretar como sinal verde para abusar nas compras.
Leia mais:
Taxas de operações bancárias seguem assustando: veja como evitar juro mais alto
Calendário de contas e folgas em 2017: organize-se para não entrar no vermelho no novo ano
– Para o consumidor, a mudança é positiva, pois deve minar a famosa bola de neve dos juros do rotativo. Entretanto, meu maior receio é que a mudança incentive os consumidores a pagar apenas o mínimo do cartão de crédito, algo que nunca deve ser feito – afirma o educador financeiro e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
A medida definiu limite de 30 dias para o uso do rotativo do cartão de crédito. Para o consumidor que não pagar o total em determinado mês, os juros só podem ser cobrados até a próxima fatura. Depois disso, a instituição financeira é obrigada a migrar a dívida para uma opção de parcelamento com juros mais baixos. As operadoras têm até 3 de abril para adotar a nova prática.
Endividamento
Para os especialistas, o limite do rotativo cai do céu para quem perde o controle do cartão e quer colocar a vida financeira nos trilhos.
– É medida boa para quem perdeu o controle e estourou o cartão. Em um ano, poderia estar devendo o dobro. Mas não muda nada na forma como se deve usar esse crédito. Pagar juros sempre é péssimo negócio – explica o educador financeiro Jaques Diskin.
O diretor-executivo do Procon Porto Alegre, Cauê Vieira, prega uma ampla campanha de conscientização sobre o uso do crédito. Do contrário, poderia haver mais endividamento se o consumidor não der bola para a dívida.
– Ele deverá ter consciência de que está contratando um financiamento a longo prazo, que impactará o seu orçamento por longo período. Desconsiderar a nova obrigação mensal, aliada à continuidade do perfil de gasto, pode significar nova necessidade de parcelamento, gerando efeito cascata _ avisa ele.
O LIMITE DO ROTATIVO NO CARTÃO
O que é:
– Os juros do rotativo só poderão ser cobrados até o vencimento da fatura seguinte, ou seja, por até 30 dias.
– Depois desse prazo, o banco tem de adequar a dívida a um crédito com juros menores.
– O saldo será automaticamente parcelado em até 24 meses.
– Os bancos têm até 3 de abril para se adaptar e começar a oferecer o novo parcelamento.
A razão da medida:
– O governo espera segurar o superendividamento e levar a uma redução dos juros cobrados.
– Espera-se que a taxa de juros praticada no crédito rotativo caia pela metade._ Atualmente, elas superam os 400% ao ano.
– O Banco Central espera também aumentar a conscientização sobre o crédito ao consumidor.
Quem ganha:
– Ajudará aquele consumidor que se perder no uso do cartão e não souber como pagar.
– Hoje, ele tem a dívida jogada para o mês seguinte, com a cobrança dos juros altíssimos. E isso acontece mês a mês, sucessivamente.
– Com a nova regra, a dívida para de crescer vertiginosamente.
– O valor será acrescido de juros de financiamento, mais baixos que os do rotativo, e dividido em parcelas fixas.
– O consumidor saberá o valor da mensalidade e por quanto tempo terá de pagá-la.
Onde está a armadilha:
– Achar que é bom negócio usar o cartão, pagar sempre o mínimo da fatura e ter o resto parcelado.
– Pagar juros, mesmo mais baixos, sempre será mau negócio.
– Outro risco é desconsiderar a dívida assumida e seguir usando o cartão.
– Em pouco tempo, será preciso novo parcelamento, provocando um efeito cascata tão perigoso quanto os juros do crédito rotativo.
Como se prevenir:
– Na prática, o comportamento na hora de usar o cartão não deve mudar.
– O cartão de crédito é uma excelente ferramenta para quem sabe aproveitar.
– Mas ele não aumenta o salário de ninguém no final do mês.
– Na hora de comprar, é preciso olhar para o salário no final do mês, não para o limite do cartão.
_ É preciso gastar somente o dinheiro que se tem e pagar o valor total da fatura.
Fonte: educadores financeiros Jó Adriano da Cruz, Jaques Diskin e Reinaldo Domingos.