Uma incrível descoberta feita por um grupo de estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) ganhou as páginas de publicações nacionais e internacionais, como a revista National Geographic: o primeiro registro de uma tarântula (aranha caranguejeira) devorando uma cobra na natureza. O flagrante fotográfico foi feito em uma pastagem na Serra do Caverá, em Rosário do Sul.
Conrado Mario da Rosa, Gabriela Franzoi Dri e Leandro Malta Borges, estudantes de Ciências Biológicas, estavam no local quando avistaram parte de uma cobra de mais de 50cm escondida embaixo de uma rocha. Ao se aproximarem, viram que o animal estava sendo devorado por uma grammostola quirogai, tipo de tarântula bastante comum nos campos daquela região e alvo dos estudos do grupo.
A descoberta, feita em 23 de outubro de 2016, virou artigo publicado no site Herpetology Notes e surpreendeu cientistas ao redor do mundo.
– É conhecido o fato de grandes aranhas terem capacidade de subjugar grandes presas, e existem registros de casos de aranhas comendo cobras. Porém, em quase totalidade, são aranhas que usam a teia como armadilha para captura, o que não é o caso das caranguejeiras – conta Leandro, 25 anos, que, assim como seus colegas, integra o Laboratório de Biologia Evolutiva da UFSM.
Depois que o trabalho foi publicado, o grupo recebeu o relato de evento semelhante ocorrido no Nordeste. Porém, naquele episódio, a serpente escapou.
– Então, é um registro importante, que afirma a capacidade de elas se alimentarem de animais com tamanhos muito superiores a seus próprios corpos. Creio que a raridade da situação, aliada ao fato de esse ser o primeiro registro da espécie para o Brasil, e ainda ser um evento envolvendo dois grupos animais que trazem tanto medo a muitas pessoas, levou a essa propagação que nunca imaginávamos quando publicamos o trabalho – avalia Leandro.
A grammostola quirogai foi descoberta no ano passado por um grupo de aracnólogos uruguaios. São aranhas grandes, com comprimento total superando os 15cm. Sua base alimentar é composta por insetos, mas podem predar vertebrados, como serpentes, anfíbios, pequenos lagartos, mamíferos e aves. Esses seres, que podem superar os 30 anos de vida, são solitários e têm hábitos sedentários. À exceção dos machos adultos, que nos períodos de reprodução, podem invadir residências da área rural.
– Mas são animais tranquilos e que não oferecem riscos, basta deixar seguir o caminho. Gostam de áreas de campo, com afloramentos rochosos. Elas ocorrem em áreas pequenas, porém, onde existem, são abundantes. Encontramos em Rosário do Sul, aqui no Brasil, mas acredito que a distribuição se estenda rumo ao Oeste, em direção a Argentina – explica Leandro.