Pesquisadores e autoridades de saúde do Brasil e do mundo trabalham em diferentes frentes para traçar estratégias de prevenção, aperfeiçoar diagnóstico, desenvolver vacinas e elaborar novos medicamentos que atuem contra zika e doenças relacionadas ao vírus. Neste mês, o governo federal divulgou uma lista com 69 projetos de pesquisa voltados à área, e três deles têm coordenação em universidades do Rio Grande do Sul.
As pesquisas lideradas no Estado – e que envolvem instituições de outras regiões – são da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Universidade Feevale. A elas serão destinados R$ 2 milhões, R$ 1 milhão e R$ 103 mil, respectivamente.
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No total, órgãos vinculados aos ministérios de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Educação e Saúde repassarão R$ 65 milhões para trabalhos divididos em nove linhas. Entre outras despesas, os recursos devem ser usados para pagamento de bolsas e custeio.
Os primeiros registros do zika vírus são do ano passado. Inicialmente, sabia-se que os sintomas eram mais leves do que os da dengue e da febre chikungunya, doenças também transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Em novembro de 2015, porém, o Ministério da Saúde constatou que a infecção em gestantes podia fazer com que os bebês nascessem com microcefalia, malformação do cérebro com possibilidade de associação a danos mentais, visuais e auditivos.
Execução conforme necessidades do SUS
Coordenador de uma das pesquisas que serão executadas com verba federal, o professor Diogo Onofre Souza, vinculado ao Departamento de Bioquímica da UFRGS, ressalta a importância do investimento frente ao desconhecimento das consequências do zika vírus:
– Houve uma coisa muito dramática, o nascimento de crianças com microcefalia, que impressionou muito. Mas isso não quer dizer que não existam outras consequências nas crianças que não nasceram com microcefalia e nos adultos que tiveram a infecção.
Entre o dia 30 deste mês e 2 de dezembro, os coordenadores dos projetos e gestores dos ministérios envolvidos se reunirão para discutir a execução dos projetos conforme as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). O seminário será uma oportunidade para pesquisadores alinharem cooperações. O prazo para execução dos projetos é de 48 meses.
Foco interdisciplinar
Sob coordenação do professor Diogo Onofre Souza, do Departamento de Bioquímica da UFRGS, foi montada uma equipe interdisciplinar com pesquisadores de áreas como neurociências, epidemiologia, biologia molecular e virologia. Entre os objetivos, está entender melhor as características do vírus, a evolução e o diagnóstico.
– Nosso projeto é amplo e tem uma urgência. Não podemos ficar 10 anos pesquisando. A ideia de montar uma equipe interdisciplinar é que queremos uma grande interação entre as áreas – afirma o pesquisador, que exemplifica:
– Será que pessoas que foram infectadas terão problemas cerebrais mais tarde? Ou problemas cardíacos e hepáticos?
Além do conhecimento que pode ser compartilhado com a comunidade científica por meio de publicações, Souza espera que as pesquisas possam intervir nos efeitos do zika do ponto de vista social "o mais rápido possível". Ou seja, que a aplicabilidade chegue logo ao sistema de saúde para prevenção e tratamento.
Fôlego para ampliar pesquisa
O trabalho na Universidade Feevale começou há aproximadamente seis meses, com a ideia de estudar a replicação do vírus em diferentes tipos celulares. Com a oportunidade de receber recursos do governo federal, incluiu-se mais duas linhas de pesquisa.
– Uma é caracterizar geneticamente as amostras que têm circulado no Rio Grande do Sul para tentar estabelecer de onde elas vem e qual a relação com outros vírus que circularam pelo Brasil. A outra é buscar novos agentes antivirais – explica o professor Fernando Spilki, que lidera o projeto.
Além dos R$ 103 mil do governo federal, a instituição investirá mais R$ 70 mil. A ideia é que, ao longo dos 48 meses de prazo para se desenvolver o projeto, o grupo faça mais de uma publicação sobre as conclusões. Atuarão estudantes da graduação, do mestrado e do doutorado.
Análises mais rápidas
O projeto liderado pela doutora em Biologia Molecular Mariana Roesch Ely, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), é focado no desenvolvimento de ferramentas que resultem em análises mais rápidas e precisas se comparadas às metodologias de detecção atuais. A ideia é que o procedimento, que prevê o uso de nanopartículas (partículas ultrafinas) de ouro, tenham boa relação custo-benefício e aplicabilidade no SUS.
Mariana ressalta a experiência com trabalhos iniciados na universidade em 2012 com biossensores:
– Com base nos excelentes resultados do primeiro quadriênio, pensou-se em desenvolver um sensor voltado para a detecção de zika vírus, partindo do mesmo preceito experimental, utilizando uma reação com antígeno-anticorpo para captura de antígenos e anticorpos virais.
Os profissionais envolvidos são das áreas de Ciências da Saúde, Biotecnologia, Ciências Biológicas, Física, Química e Engenharia.
*ZERO HORA