O professor do Departamento de Astronomia da UFRGS Alan Alves Brito, que participa da descoberta de dois novos planetas, afirma que o estudo é importante na busca da tão sonhada "nova Terra" – um planeta que seja o mais semelhante possível ao que habitamos.
– Esses planetas são interessantes porque estamos buscando outros parecidos com a Terra. A gente quer encontrar uma Terra como a que a gente conhece, que orbite na mesma distância do Sol, a "Terra 2.0". Essa descoberta é só o começo – afirma o pesquisador.
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A descoberta dos planetas, batizados de super-Terra e super-Netuno, foi publicada na revista Astronomy & Astrophysics em setembro. Eles orbitam a estrela HIP 68468, que fica a 300 mil anos-luz da Terra e possui 6 bilhões de anos – 1,5 bilhão de anos a mais do que o Sol, formado há 4,5 bilhões de anos.
– Estudar essa estrela (HIP 68468) também é importante porque ela é o nosso Sol no futuro – explica Alves Brito.
Sobre a possibilidade de haver algum tipo de vida nesses novos planetas, Alves Brito explica que esta é a grande razão pela qual a ciência busca planetas semelhantes à Terra.
– Na verdade, todas as buscas são para verificar a possibilidade de vida (em outros planetas). Eu acredito que há, mas ainda não há nenhuma evidência disso – completa o professor.
Embora existam 200 bilhões de estrelas em nossa galáxia, a HIP 68468 faz parte do seleto grupo das que podem ser chamadas de "gêmeas do sol". Isso porque elas são semelhantes ao sol em relação à temperatura, à gravidade, à metalicidade (quantidade de elementos químicos presentes na estrela, exceto hélio e hidrogênio) e à microturbulência (o estudo do movimento de massas na atmosfera). Por serem parecidas com o Sol, essas estrelas também podem ter planetas se deslocando ao seu redor, formando um sistema.
Isso faz com que essas estrelas sejam objeto de estudo do grupo, que compara o Sistema Solar com outros sistemas planetários em busca de uma outra Terra. Como nosso sistema é a régua dos cientistas, os novos planetas descobertos são sempre comparados com os famosos integrantes do Solar. Ano passado, esses cientistas descobriram um planeta muito parecido com Júpiter, orbitando outra estrela gêmea do Sol.
– Esse planeta está quase na mesma distância que Júpiter está do Sol. É o nosso Júpiter 2.0 – explica Alves Brito.
Atualmente, conforme o pesquisador, existem 3 mil planetas catalogados fora do Sistema Solar. Até a década de 90, não havia nenhuma evidência de planetas orbitando outras estrelas.
A super-Terra e o super-Netuno
O estudo integrado por Alves Brito teve coordenação do astrônomo Jorge Melendez, peruano radicado no Brasil, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).
Os planetas recém-descobertos se comparam à Terra e a Netuno quanto às massas. A super-Terra possui massa três vezes superior a do planeta em que vivemos. Já o super-Netuno tem uma massa 50% maior que a de Netuno, que possui 17 vezes a massa da Terra.
A diferença é que os novos planetas orbitam a uma distância muito mais próxima da estrela HIP 68468 do que a Terra e Netuno estão do Sol. Isso sugere que os planetas recém-descobertos tenham se deslocado para mais perto da estrela.
Outra descoberta interessante da pesquisa é que a estrela HIP 68468 pode ter engolido planetas que estavam mais próximos dela. Isso porque a estrela apresentou muito lítio, elemento mais abundante nos planetas e pouco comum em grande quantidade em estrelas. Como a super-Terra e o super-Netuno já se deslocaram em direção à estrela, é possível que eles também possam ser engolidos no futuro.
No Sistema Solar, Júpiter seria o responsável pela manutenção da posição dos outros. Maior planeta, ele possui 300 vezes a massa da Terra.
– Dentro do nosso sistema, a posição de Júpiter não é à toa. Ele impede que planetas mais para fora do Sistema Solar entrem e desestabilizem os outros planetas mais internos. É como um escudo gravitacional – explica Alves Brito.
A descoberta foi feita por meio de observações feitas em um sofisticado instrumento acoplado no telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO), localizado no deserto do Atacama, no Chile. A equipe também é composta por pesquisadores de instituições dos Estados Unidos, Austrália, Alemanha e China.