TEXTO E FOTOS DE CARLOS MACEDO
Lorenzo Da Fré leu a mensagem que um amigo lançara nas redes sociais dizendo que tinha vaga no seu time de futebol. Apaixonado por esportes, Lorenzo, na época com 18 anos e 1m45cm de altura, respondeu: "Quero jogar".
Quando chegou à quadra, no dia do jogo, pipocaram olhares curiosos e incrédulos.
Não levaram o pequeno jogador muito a sério.
– Eu vi que o pessoal começou a desconfiar. Mas é aí que eu gosto – conta o rapaz, hoje com 22 anos e técnico em informática.
No time adversário, alguém questionou seu tamanho. Um companheiro alertou:
– Ele vai te dar um chapeuzinho.
– Que nada – respondeu o outro.
Quando a partida começou, Lorenzo correu, fez gol e ainda deu o tal chapeuzinho. Entre gritos, risadas e brincadeiras, todos ficaram amigos e acabaram saindo à noite para se divertir.
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Normalmente, é assim quando ele vai jogar. Tentam passar por ele achando que será fácil, querem driblá-lo, mas é Lorenzo quem finta o adversário. E o preconceito.
– Jogo em qualquer posição, menos no gol – diz.
Ele sabe das suas limitações, mas sempre busca estratégias para diminuir a distância.
– Se o cara está ali andando rápido, eu não vou acompanhá-lo. Vou indo devagarinho, na minha.
Mas houve um período em que Lorenzo tinha receio de caminhar na rua. Colocava o fone de ouvidos para não ouvir as brincadeiras de populares no centro de Porto Alegre. Bastante protegido pela família e rodeado de amigos, foi só no ano passado que ele começou a se aventurar sozinho. Nas redes sociais, deparou com a foto de um grupo de uns 30 anões no perfil de uma amiga de São Paulo. Ficou surpreso:
– Meu Deus do céu, mas quantos!
Caçula da família, Lorenzo nasceu de pais com estatura normal. Sua irmã também não tem nanismo. Raramente via alguém igual a ele na rua, e o contato nunca passava de um cumprimento. Ao encontrar aquela foto, sentiu vontade de ir além. Ele já vinha conversando com os novos amigos, mas apenas virtualmente. Naquele dia, decidiu que queria conhecê-los pessoalmente.
Em outubro de 2015, a mãe de Lorenzo o levou até o aeroporto Salgado Filho. Depois, seguiu sozinho de avião a São Paulo. Foi sua primeira viagem solo. Um novo mundo se abriu.
No hotel, o grupo foi aumentando. Já estavam entre cinco quando saíram para jantar em um restaurante famoso do Shopping Higienópolis. Como o estacionamento era do lado oposto, tiveram que atravessar o shopping inteiro. Diante do longo corredor de paredes imponentes, os cinco amigos seguiram, observados pelas pessoas.
– Eu fiquei duro, olhando para frente, morrendo de vergonha.
Aquela cena o transformou. O jovem que antes se blindava com fones de ouvidos encararia o mundo de outro jeito após três dias em São Paulo, no encontro que reuniu anões e pais de crianças com nanismo do Brasil todo. Voltou mais confiante.
– Eu não preciso me fechar. Sempre fiz o que todo mundo faz e vou continuar fazendo. Minha vida é gigante, completa.
Em Porto Alegre, segue sua vida, pensando no futuro, no trabalho e na namorada que conheceu durante as viagens para reencontrar o grupo de amigos. Continua usando fones, mas só para ouvir música. Não se preocupa mais se as pessoas estão olhando ou não. Ele apenas segue em frente, a passos curtos, mas sem jamais parar.
– Eu sou o protagonista. Eu controlo a minha vida.