TEXTO E FOTOS DE CARLOS MACEDO
Sentada num banquinho na cozinha de casa, em Novo Hamburgo, Denisse Medeiros, 38 anos, serve banana amassada para a filha Tandara, um ano e três meses. Debruçado sobre um balcão de mármore, o marido Evandro Benedito, 35, observa com um sorriso no rosto. Ela tem 1m28cm de altura, e ele, 1m68cm. Denisse tem nanismo, é filha de um pai com acondroplasia e uma mãe com estatura normal.
– Na vida, eu ganhei dois presentes. O Evandro, meu companheiro, com quem eu divido todos os meus dias, e a minha filha, a Tandara. Nós estamos formando uma família com muito amor. O amor é possível, é real e acontece – diz Denisse.
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Eles se conheceram em 2001, num chat que reunia pessoas de Porto Alegre e Novo Hamburgo. Um dia começaram a falar no reservado, trocaram fotos e afinidades.
– Desde o primeiro momento ela disse que tinha nanismo – conta Evandro.
No dia do encontro do grupo para um churrasco, ele foi até Porto Alegre, e Denisse o encontrou na estação do trem. Ali nascia a amizade. Com o passar do tempo, começaram a sentir falta um do outro. Passavam as madrugadas conversando por telefone. Antes mesmo do primeiro beijo, Denisse conheceu a família de Evandro, por acaso, numa festa de aniversário de um tio. Os pais dele apoiavam e até faziam pressão. "Se tu enganar ela, vou ficar muito braba contigo", disse a mãe de Evandro na época.
Pouco antes do Natal de 2001, eles ficaram pela primeira vez.
– Foi um encontro de almas. A gente acha que é meio alma gêmea. É muito forte – afirma Denisse, com a cumplicidade de Evandro.
Em março do ano seguinte, assumiram para todos a relação. Pouco importava a diferença de tamanho entre eles.
– Foi nascendo um amor que vai durar até a gente ficar bem velhinho – projeta Evandro, emocionado.
Tandara, assim como a mãe, nasceu com acondroplasia. A mesma condição física do pai de Denisse e de outros dois irmãos dela. Sempre alegre e falante, Denisse nunca teve dificuldade em fazer amigos. Mas só amigos. Até que chegou a puberdade.
– Na adolescência, ninguém me queria. Eu não arranjava namorado, enquanto minhas amigas todas tinham um casinho – lembra. – Uma vez, um coleguinha de escola e melhor amigo me mandou uma mensagem dizendo: "Eu gosto muito de ti, mas vamos ser amigos".
Antes de conhecer Evandro, ela havia ficado apenas com dois rapazes – na época em que cursava a faculdade de Relações Públicas, na PUCRS. Mas nunca se abalou por isso. Sua dedicação era para os estudos e o trabalho. Denisse queria se comunicar com o mundo e escolheu isso como profissão.
No começo, depois de formada, teve muitas dificuldades. Pediu emprego em dezenas de empresas de comunicação, durante um ano, sem sucesso, e acabou começando sua vida profissional no telemarketing. Em seguida, virou bancária. Depois, trabalhou na área da saúde e hoje, depois que a filha nasceu, se dedica ao Reiki e faz artesanato para ajudar na renda enquanto não volta ao mercado de trabalho.
Denisse é uma pessoa de bem com a vida, que batalhou bastante e nunca desistiu de ter uma família como qualquer outra. De mãos dadas, os três caminham pela rua, andam no shopping e chamam a atenção das pessoas.
– Quando eles param para olhar – diz Denisse – estamos mostrando que o amor é possível.