Um mistério completa quatro anos nesta sexta-feira. A idosa Beatriz Joanna Von Hohendorff Winck, de Portão, desapareceu durante uma visita ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, no interior paulista, e nunca mais foi vista. Incansável, a família empreende buscas por conta própria em diversos Estados enquanto o inquérito instaurado pela Polícia Civil de São Paulo segue em andamento.
Em 21 de outubro de 2012, Beatriz, então com 77 anos, e o marido, Delmar Winck, chegaram ao mais importante destino religioso do país em uma excursão que partira do Rio Grande do Sul na véspera. O marido aguardava na fila do caixa na Casa das Velas, perto da basílica, quando a mulher decidiu esperá-lo na porta da loja. Quando Delmar concluiu a compra e se dirigiu à saída, constatou que Beatriz havia desaparecido em meio à multidão de fiéis que tomava o pátio do complexo naquela tarde de domingo. No dia seguinte, o técnico químico João Carlos Winck, mais velho dos quatro filhos do casal, viajou a São Paulo para dar início a uma rotina exaustiva de caminhadas e abordagens a comerciantes, taxistas, ambulantes, motoristas de ônibus e moradores de rua. A estada, infrutífera, prolongou-se por dois meses.
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No princípio, a família acreditava que a dona de casa pudesse ter sofrido uma isquemia cerebral em decorrência, entre outros fatores, da falta da medicação para controlar uma arritmia cardíaca – desmemoriada, ela teria se perdido entre os milhares de turistas e talvez embarcado em algum ônibus. Depois, os Winck passaram a considerar a possibilidade de sequestro.
– Não acredito em desaparecimento. Não posso acreditar que minha mãe desapareceu e ninguém viu. Alguma coisa estranha aconteceu. Com tamanha divulgação, a mídia toda em cima divulgando em rede nacional, com tamanha procura, e não ter tido nenhuma pista, nenhum resultado, é muito estranho – comenta João Carlos.
O técnico químico perdeu a conta do número de vezes que viajou à região de Aparecida e a dezenas de outras cidades de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Munido de fotos, radiografias da arcada dentária e simulações de computador mostrando possíveis variações da aparência da mãe, ele costuma repetir, em cada local, o roteiro de visitas a asilos, hospitais e necrotérios. Um detetive particular também chegou a ser contratado.
João Carlos prefere não revelar quanto foi gasto em passagens aéreas, hospedagem, impressão de cartazes, locação de veículos e combustível, mas faz uma comparação: todas as despesas já ultrapassaram o equivalente ao valor de "dois carros importados de alto luxo". Apesar da falta de informações, a certeza de que dona Beatriz está viva se mantém inabalável.
– Continuo bastante confiante. Tenho a certeza de que a gente vai conseguir resolver o mais rápido possível – diz João Carlos, que deve viajar a São Paulo nos próximos dias para conversar com o investigador e a delegada responsáveis pelo caso.
Contatada por Zero Hora, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo se limitou a emitir uma nota afirmando que as buscas continuam. "Foram feitas pesquisas no banco de dados de Pessoas Desaparecidas e Encontradas, a foto da idosa foi inserida no site da Polícia Civil e a investigação de denúncias foram algumas das providências tomadas para tentar encontrar a vítima. Além disso, pesquisas também são realizadas constantemente em instituições, utilizando a impressão digital da desaparecida", diz o texto.
Na residência de Delmar e Beatriz, no Vale do Sinos, pouco mudou. As roupas e os objetos pessoais da aposentada ocupam os mesmos lugares. O idoso mora com a caçula, Ivone, que o cerca de cuidados, cobrindo-o durante a noite e sempre perguntando se algo lhe falta. Hoje com 85 anos, Delmar transita entre a tristeza profunda, com crises de choro e noites em claro, e o otimismo, fazendo planos "para quando ela voltar". Tenta se distrair com jornais, palavras cruzadas e exercícios físicos. Vai à missa todo final de semana, faz novenas e reza inclusive para Nossa Senhora Aparecida, garantindo que o episódio do santuário não abalou sua fé na santa.
– Eu sempre achei que isso acontecia só em novela. Não entendo, não posso me conformar. A morte é melhor do que isso. Às vezes, me olho no espelho e penso: "O que eu estou fazendo por aqui ainda?" – conta o aposentado. – Me falta a metade. Eu sempre penso nela. É o amor da minha vida – completa.