Enforcar-se e perder os sentidos, atear fogo na própria mão, segurar uma pedra de gelo até ter queimaduras na pele. Esses são alguns dos "desafios" difundidos em canais na internet e redes sociais que são reproduzidos por adolescentes. O primeiro, conhecido como "jogo da asfixia", também chamado de Choking game, causou a morte de um adolescente de 13 anos em São Vicente, no fim de semana passado, e é alvo de preocupação de pais e educadores, que tentam evitar que mais jovens coloquem a vida em risco.
Durante a adolescência, um estudante de 23 anos, que preferiu não se identificar, participava de brincadeiras que o levavam ao desmaio. Há dois meses, em uma roda de amigos, repetiu a prática.
– A gente estava bebendo e entrou nesse assunto. Eu mesmo fiz, porque falei que já tinha feito quando era mais novo. Não sei quanto tempo fiquei segurando o meu pescoço.
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O jovem diz que foi amparado pelos amigos e que não teve problemas após o jogo. Ele conta que já gravou vídeos participando de desafios e postou na internet, mas resolveu parar.
– Já pinguei limão no olho e segurei sal com gelo. Existe uma adrenalina de se autodesafiar e de saber que você consegue. O problema é que, quando mais você faz, mais as pessoas te desafiam.
Há um ano, um estudante de 12 anos começou a praticar os desafios. Ele não fez o da asfixia, mas já colocou álcool em gel e ateou fogo na mão e segurou uma pedra de gelo com sal.
– Eu sinto euforia. Meus amigos começam a me parabenizar. Gosto de me arriscar.
Professor de Psiquiatria da Universidade Santo Amaro e membro consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Kalil Duailibi diz que é mais difícil para pais notarem a prática de desafios, como o "jogo da asfixia", porque eles não costumam deixar vestígios. Duailibi afirma que um tripé leva os adolescentes a entrar em situações de risco para vencer competições.
– O adolescente quer transgredir regras, tem o pensamento mágico de que nada de ruim vai acontecer e sente a necessidade de fazer parte de grupos.
Fundador do Instituto DimiCuida, Demétrio Jereissati, de 57 anos, perdeu um filho em 2014. O jovem de 16 anos se enforcou com um cinto ao participar do desafio.
– Todo dia aumenta o número de desafios. Em 2010, eram 500 vídeos do jogo do desmaio. Agora, são 19 mil. Precisamos acabar com essa prática.
Campanha
Na última quinta, a Associação Rolezinho A Voz do Brasil lançou a campanha "Diga não ao desafio que desafia sua vida".
– Não podemos deixar o jovem se automutilar. Temos de mostrar que isso mata de verdade – diz Darlan Mendes, presidente da associação.