O Rio Grande do Sul lidera uma triste estatística: a de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental que já experimentaram bebida alcoólica. No Estado, 68% dos estudantes que responderam à Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirmaram já ter tomado álcool algumas vez na vida. A média brasileira é de 55,5%.
Os números são especialmente preocupantes em relação às jovens alunas: 71,2% delas afirmaram já ter consumido álcool, ante 64,8% deles. À exceção de Santa Catarina em relação aos homens, em nenhum outro Estado esses percentuais são tão altos. Em Pernambuco, por exemplo, a média, entre ambos os sexos, é de 46,2%.
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A iniciação alcoólica no Rio Grande do Sul não distingue muito a rede em que os alunos estão matriculados: ainda que o percentual de estudantes de escolas públicas expostos ao álcool seja maior (68,4%), na rede privada ele também é alto e, mais uma vez, o maior do país (61,5%).
A maior parte dos estudantes (88,6%) que respondeu à pesquisa tinha entre 13 e 15 anos – abaixo da idade legal para o consumo de bebidas alcoólicas no país, que é de 18 anos. A pesquisa foi realizada no ano passado e divulgada nesta sexta-feira.
Esses estudantes gaúchos, em sua maioria (45,9%), foram introduzidos à bebida durante festas. Outros compraram em algum estabelecimento comercial (16,6%) ou conseguiram por meio de amigos (13,5%) ou alguém da família (12,9%). Os números são semelhantes aos da média nacional.
Para o psiquiatra Carlos Salgado, membro do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad), tamanha exposição ao álcool entre adolescente mostra que a bebida, embora proibida para eles, é muito acessível.
– Contribui para isso a liberalidade do ponto de vista dos pais, que tendem a acreditar que não há com impedir que os jovens comecem a beber e, para não entrar em atrito, acabam cedendo e pensam que, se eles beberem em casa, em uma festa, tudo bem.
O levantamento do IBGE indica também que, entre os jovens que declararam ter experimentado bebida alcoólica alguma vez na vida, a prática pode ter se tornado rotina: 50,1% dos estudantes gaúchos ouvidos afirmaram ter consumido álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa, enquanto a média brasileira é de 42,9%.
O presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), Arthur Guerra, explica que o consumo precoce de álcool é preocupante porque, quando jovem, o corpo não está preparado para os efeitos da bebida.
– O cérebro do adolescente não está maduro para receber o álcool, qualquer dose pode ter um impacto negativo – afirma o psiquiatra.
Entre os estudantes que disseram já ter ingerido álcool, 44,4% deles no Rio Grande do Sul relataram ter passado por algum episódio de embriaguez – a média nacional é de 38,5%.
– Trata-se de uma pesquisa onde os próprios adolescentes respondem, em um questionário, questões referentes à sua vida, fatores fundamentais para definir aspectos que vão determinar a sua fase adulta. Os dados mostram que houve diminuição do consumo de cigarro, mas o álcool permaneceu e permanece em um patamar bastante elevado – avalia o gerente da pesquisa, Marco Andreazzi.
Apesar de não relacionarem a ingestão de álcool à sugestão ou à pressão de amigos, boa parte dos alunos ouvidos – mais da metade, no Estado – garante que mantém amizade com pessoas que consomem bebidas alcoólicas com regularidade. Para Carlos Salgado, esses amigos acabam influenciando a iniciação alcoólica entre os mais jovens.
– O uso do álcool pela influência dos pares é muito determinante. Os jovens se sentem mais livres para beber, e o fazem até para garantir uma sensação de pertencimento àquele grupo – entende o psiquiatra.
Foram ouvidos 1.015 estudantes de 46 escolas em Porto Alegre e 1.373 alunos de 62 colégios no Interior. No Brasil, responderam ao IBGE 102 mil estudantes de 3.040 escolas.
* Colaborou Júlia Burg