De camisa social, calça jeans e tênis, dois visitantes ilustres percorreram e correram pela redação de ZH na tarde desta segunda-feira. Acompanhados da mãe, Elisiane, e da vó, Neiva, os gêmeos Gustavo e Guilherme, quatro anos, ficaram famosos antes mesmo de nascer: moradores de Santa Vitória do Palmar, no sul do Estado, vieram ao mundo a mais de 500 quilômetros de casa, em um parto de risco, em Novo Hamburgo. A história da família foi acompanhada em reportagens publicadas pelo jornal.
Em outubro de 2011, ligar para a redação da RBS TV foi o último recurso encontrado por uma tia da funcionária pública Elisiane dos Santos San Martin Naparo que vive em São Paulo para denunciar a situação em que se encontrava a sobrinha. Com a bolsa rompida há dois dias, às 33 semanas de gravidez, ela aguardava por atendimento sem boas perspectivas: único destino possível para a realização do parto prematuro dos gêmeos era Novo Hamburgo, a 530 quilômetros de Santa Vitória do Palmar, e não haveria ambulância para realizar o deslocamento.
O chamado foi atendido pela telefonista Carmen Nunes, que encaminhou a ligação para a redação de ZH. Plantonista naquele domingo, a editora Juliana Jaeger acionou a repórter Joice Bacelo para apurar o caso. Cerca de duas horas depois do contato com o jornal, uma ambulância foi providenciada para levar a gestante ao município do Vale do Sinos, onde nasceram os bebês.
– Já tinha passado na frente do jornal depois disso, e sempre me lembrava das pessoas daqui. A gente queria conhecer pessoalmente quem nos ajudou e lembrar que a profissão do jornalista também é uma missão. Tem muita gente que não sabe os direitos que tem – disse a funcionária pública, que abraçou a telefonista, a editora, e também a jornalista Rosane de Oliveira, que se emocionou ao lembrar do caso.
O contato com a redação do jornal foi por e-mail, e surpreendeu a editora Juliana Jaeger:
– Eu lembrava da história, mas na hora em que li a mensagem dela, veio tudo em detalhes. É recompensador – disse.
Alunos da pré-escola, Guilherme e Gustavo não economizaram energia nas visitas às redações da RBS TV e de ZH. A dupla diferenciada, em aparência, apenas pela cor da camisa e por uma pinta na sobrancelha de Gustavo correu, brincou, posou para fotos, comeu chocolate e ganhou ingressos de cinema enquanto os adultos lembravam a saga vivida pela família há quase cinco anos.
A vinda de Elisiane e dos filhos a Porto Alegre foi apenas uma parada em uma verdadeira rota de gratidão ligada ao episódio. Depois da passagem pela Capital, ela, a mãe e os gêmeos seguiriam para Novo Hamburgo, onde encontrariam Isabel Cristina Oliveira, funcionária do hospital que hospedou a família em sua casa durante o período em que Elisiane ficou internada – depois do parto complicado, ela passou alguns dias em coma induzido. Isabel, que se tornou amiga da família da Santa Vitória do Palmar, foi operada de um tumor recentemente.
Peregrinação para dar à luz
A história Elisiane e seus dois gêmeos veio à tona com um telefonema para o Grupo RBS na manhã de 23 de outubro de 2011, um domingo. Havia dois dias, ela aguardava uma vaga em hospital equipado com UTI neonatal para poder dar à luz Guilherme e Gustavo. Com a bolsa de Elisiane rompida e risco de infecção para a mãe e os bebês, o parto precisava ser feito com urgência.
Depois de esperar em vão por uma solução do poder público, a tia da gestante, Eva Tereza de Sá entrou em contato com a RBS TV por meio de um telefonema de sua casa, em São Paulo.Como o próximo noticiário só seria veiculado à noite, a telefonista da RBS Carmen Maria Nunes entrou em contato com ZH para que o drama familiar fosse imediatamente revelado em zerohora.com.
Depois de a reportagem de ZH ouvir o secretário estadual da Saúde à época, Ciro Simoni, surgiu a possibilidade de internação no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, que deu abrigo, finalmente, a Elisiane e aos gêmeos.