Com pelo menos um ano de agenda já preenchida, o tatuador Chico Morbene, 26 anos, tem sido um dos mais requisitados do Sul do Brasil. Ele estará nos três dias da Expo Tattoo em Florianópolis, que começa nesta sexta-feira e segue até domingo no CentroSul, para fazer tatuagens e conversar com os adeptos da prática.
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Especializado em tatuagens realistas em preto e cinza, o profissional mantém um estúdio em Porto Alegre (RS), mas frequentemente viaja pelo país para atender clientes e ministrar workshops – já esteve em Blumenau e Joinville neste ano.
Chico defende que a técnica é tendência no Brasil e no mundo. O artista, que atua há apenas seis anos – trabalhava com informática até 2010 e "não gostava muito" de tatuagem até ter contato com esse universo – já coleciona clientes famosos, como Dani Bananinha, diretores da Rede Globo, jogadores de futebol como Vitinho (Internacional) e importantes advogados e médicos do Sul do Brasil.
Um dos últimos artistas a tatuar com ele – e que o projetou nacionalmente pela polêmica nas redes sociais – foi Tom Veiga, o intérprete de Louro José, que escolheu um desenho combinando o retrato da esposa a traços peculiares das catrinas (representação do esqueleto de mulheres no folclore mexicano). A esposa de Veiga não gostou da homenagem, mas Chico diz ter sido apenas um mal entendido. "Foi engraçado. Mas ele gostou. Eles que são grandes, que se entendam", brinca. Leia a entrevista na íntegra:
ENTREVISTA
Chico Morbene
Tatuador especializado em realismo em preto e cinza
"A sociedade já está encarando a tatuagem como arte"
Como você começou na profissão?
Antes de começar a tatuar, eu não gostava muito [risos]. Eu trabalhava com computadores. Depois eu tinha uma loja junto com o estúdio de tatuagem de um amigo. Ali conheci o trabalho. Dali por diante fui curtindo e me apaixonando pela arte da tatoo. Tudo começou em 2010.
E a tua verve realista? Qual foi a influência?
Foi quando eu entrei em outro estúdio, há três anos, na Casa de Leões, estúdio do Diogo Quadros (em Porto Alegre), onde eu comecei a ver mais quadros realistas e a ter mais referências e inspirações. Comecei a ver coisas de fora e curtir o realismo preto e cinza, que é o que eu faço. Daí comecei a me aperfeiçoar, comecei a buscar mais conhecimento, até através da internet, vídeos e fotos de outros artistas.
Como anda essa tendência no Brasil?
O preto e cinza realista virou febre de uns dois anos para cá. Hoje em dia é uma das categorias mais fortes, tanto que eu sou um dos que mais dá workshop hoje no Brasil.
Essa modalidade é mais cara, mais dolorida?
É uma tatuagem que normalmente demora um pouco mais porque é um trabalho de realismo, então requer mais paciência do cliente e do tatuador também. Normalmente por trabalhar com muitas sombras, às vezes não é tão dolorido. Em relação a valores, depende muito do tatuador. Vale pesquisar bem a qualidade de trabalho, e não o preço. Então aconselho sempre pesquisar bem, porque é bem complicado de fazer, requer muito estudo e não é barato.
É necessário mais de uma sessão para fazer?
Dos trabalhos publicados nas minhas redes sociais, quase todos são feitos em uma sessão. Até mesmo alguns que eu posto, que são de costas inteiras, feitas em 20/30 horas. Até prefiro fazer em uma sessão para conseguir ter um melhor resultado.
Normalmente os desenhos são grandes?
O meu estilo de trabalho não é fazer desenhos muito pequenos. Como é realismo, gosto de trabalhar com imagens grandes porque acabam chocando mais a galera, impressionando. E outro é que se consegue dar mais detalhes, porque quanto maior o desenho, a facilidade de dar mais detalhes é maior.
Quais são as figuras mais comuns? Alguma dá mais trabalho?
O que hoje acho que a galera tira muito mais experiência do meu trabalho é nas estátuas que faço, acho que é o que mais aparece. É um pouco diferente do que fazer retrato, porque o jeito de trabalhar uma estátua é diferente, é meio que lapidando, então tem que cuidar para não parecer o rosto de uma pessoa, mas a figura de estátua. É um dos trabalhos mais complexos e difíceis de fazer no realismo preto e cinza.
Você já é expoente nessa área, muitos famosos te procuram?
Hoje ainda (terça-feira) tatuei o Vitinho do Internacional, que já jogou na Seleção (de base), o Douglas, do Grêmio, o Ramiro (Grêmio), o Bressan (Peñarol), o Nilton (Vissel Kobe, Japão). Um monte deles. Já tatuei Dani Bananinha, um diretor da Globo. Até teve um caso do Louro José que teve repercussão nacional. Ali foi engraçado. Ele gostou, falou comigo. Eles que são grandes que se entendam. Me ligaram da Veja e das TVs perguntando sobre isso. Para mim, até que é bom, quem não é visto não é lembrado. Tatuei bastante gente da mídia.
Como você vê a aceitabilidade da tatuagem na sociedade hoje em dia?
Eu acho que hoje em dia o preconceito da tatuagem é muito menor. Até pelas pessoas que eu tatuo, muito médicos, donos de empresa. Vejo que estão todos bem tranquilos. Faço com eles tatuagem de braço, de mão. Tem muitos advogados importantes no Sul até. Acho que essa questão está bem mais tranquila neste momento que a gente vive. A sociedade está encarando muito mais como arte. Até porque a gente falava alguns anos atrás que na Europa era diferente. Lá, o tatuador era visto como artista. No Brasil, ser tatuador era confundido como marginal, o cara que não tem o que fazer e começa a tatuar. Hoje em dia é diferente.
Nesse período de crise sente alguma mudança?
Vejo alguns amigos meus que deu uma baixada. Mas para mim é um pouco diferente, porque eu trabalho com agenda e ela é de um ano de espera. A galera que marcou há um ano, não vai deixar de fazer tatoo.
Na Expo Tattoo, as pessoas poderão fazer tatuagem contigo?
Geralmente vou com os clientes já fechados. Nunca abro a agenda na feira. Normalmente dou prioridade para o cliente do Estado que já queria tatuar comigo, senão não consigo atender todo mundo. Mas as pessoas vão poder ficar à vontade para trocar ideias e conhecer o trabalho. Sempre procuro deixar meu estúdio aberto ao público.
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