As instalações do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids do Rio Grande do Sul (Gapa/RS) em quase nada lembram o vigor do início do período de ativismo. Fundada em 1989 e instalada desde 1991 em uma casa de dois andares e 180 metros quadrados na Rua Luiz Afonso, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, a organização não governamental está quase fechando – o atendimento diário ao público foi interrompido há dois anos. Hoje em dia, são realizadas apenas atividades pontuais. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) cessou o custeio do aluguel em 2008, e o proprietário move uma ação contra o governo para a retomada do imóvel. Uma ação de despejo pode ser executada pela Justiça.
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Mesmo quase inoperante, a sede continua gerando despesas. Os recursos para financiar projetos e a manutenção do prédio escassearam há alguns anos, e hoje dois dos cinco voluntários remanescentes pagam, com dinheiro próprio, por água, luz, limpeza e um sistema de alarme, que permanece ativo para evitar invasões e roubos. Vazamentos na rede hidráulica resultaram em uma conta no valor de R$ 1,6 mil recentemente. O estado geral da construção é precário, com infiltrações, pintura descascada e focos de cupim.
– As pessoas nos procuram fragilizadas. Como vamos recebê-las se não temos nem banheiro funcionando? – lamenta a presidente da ONG, Carla Almeida.
Militante dos direitos humanos que se integrou ao Gapa em 1998, quando o número de voluntários chegava a 80, Carla ainda não sabe qual será o destino do acervo, composto por livros e materiais das primeiras campanhas de aids no Brasil e no Estado, e se será possível um dia retomar com fôlego a oferta dos serviços de acolhida e orientação a pacientes e familiares.
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– A imagem da casa do Gapa é a imagem da resposta à epidemia no Rio Grande do Sul. Tem sido desafiador pensar a aids, o cenário é nebuloso. A aids perdeu a visibilidade política, saiu da pauta, não é prioridade – lamenta a presidente.
Contatada por Zero Hora, a Secretaria Estadual de Saúde informou, por meio da assessoria de imprensa, que reiterou ao Gapa/RS "a impossibilidade de manter o apoio contínuo para manutenção do espaço físico, até porque não poderia efetuar pagamentos ou fornecer espaço próprio para uma dentre tantas instituições similares". O valor do aluguel era de R$ 6 mil mensais. A nota diz ainda que a pasta está concluindo processos para a contratação de serviços para a reforma do imóvel, que deve ser devolvido nas condições do início do contrato. Outra possibilidade, segundo a SES, é negociar o pagamento dos valores necessários para os reparos.