O papa Francisco desembarcou nesta quarta-feira na Polônia para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que reúne jovens católicos do mundo todo. A programação do evento se estende até domingo.
Papa pede que Polônia acolha refugiados
Presidente da Polônia recebe papa Francisco
Antes da chegada, ainda a bordo do avião, o Pontífice comentou o assassinato de um padre francês no dia anterior, que foi reivindicado pelo Estado Islâmico:
– Fala-se tanto de segurança, mas a palavra verdadeira é guerra. O mundo está em guerra porque perdeu a paz. Quando falo de guerra, falo de uma guerra de interesses, de dinheiro, de recursos, não de religiões. Todas as religiões querem a paz.
Logo após o desembarque, Francisco foi recebido pelo presidente Andrzej Duda e ganhou flores de duas crianças polonesas. O Papa saudou os militares e acenou para a multidão que foi lhe dar boas-vindas. Após cumprimentar religiosos, deixou o aeroporto no banco de trás de um veículo comum – com os vidros abertos, acenou mais uma vez.
No primeiro discurso em Cracóvia, Francisco falou em superação de medos ao chamar os poloneses a acolherem "aqueles que fogem da guerra e da fome" – a questão dos refugiados é um assunto delicado no país de João Paulo II. Ele destacou a história de "perdão" que marca o povo da Polônia, vítima de muitos conflitos e, especialmente, da II Guerra Mundial.
– Na vida cotidiana de qualquer indivíduo ou de uma sociedade, há dois tipos de memórias: a boa e a má. A memória boa é o Magnificat, o cântico de Maria, que louva o Senhor e sua obra de salvação. A memória negativa deixa a mente e o coração, obsessivamente, fixados sobre o mal, especialmente aquele cometido pelos outros – ressaltou.
A missa de abertura da JMJ, na terça-feira, contou com mais de 200 mil pessoas, conforme a Polícia Nacional – a expectativa dos organizadores, no entanto, era de que reunisse aproximadamente meio milhão. O número de participantes na JMJ pode ser menor do que o esperado por causa de temores de ataques.
O Papa visitará hoje o santuário mariano de Czestochowa e, amanhã, o antigo campo de concentração de Auschwitz, onde judeus foram assassinadas por nazistas. A visita deve ser concluída com a tradicional vigília de oração no sábado e a missa de domingo.
Confira relato do padre gaúcho Gerson Schmidt, enviado de Budapeste, a caminho da Cracóvia.
"Sou um dos 10 mil brasileiros inscritos e viandantes, a caminho de Cracóvia, para o encontro com o Papa Francisco na 31ª Jornada Mundial da Juventude. É a terceira que participo como romeiro, como caminheiro, acompanhando e motivando um grupo de jovens peregrinos que, de cidade em cidade, fazem sua pré-jornada, a caminho do Campo de Misericórdia, local da vigília e concentração de dois a três milhões de jovens católicos do mundo inteiro.
O nosso é um dos milhares de roteiros e rotas de diversos grupos semelhantes, provenientes dos mais variados recantos do planeta, cada qual com seu sorriso e jeito jovial de ser. Acompanhar o pique dos jovens não é nada fácil. É um desafio. Dormindo em aeroporto, cantando pelas ruas das cidades europeias, organizando a caravana, rezando nos ônibus e nas igrejas belíssimas, zelando pelos cuidados em cidade estrangeira, cobrando atenção dos distraídos, mas amados jovens... tudo faz parte de uma Jornada que vale a pena participar, como um tesouro muito grande a ser conquistado, com a bênção e graça de Deus. Peregrinar assim é imperdível. Sentir-se um peregrino entre milhares é uma experiência ímpar.
É tão maravilhoso ver jovens de diversas nações e culturas, com suas camisetas e bandeiras, em grupos organizados, se cruzarem nas cidades onde passamos, nos metrôs, nos centros urbanos, nas praças de alimentação onde nos concentramos. É interessante sair de nossa comodidade para pegar a estrada, seja no avião, no ônibus, no metrô, no bonde, na rua ou a pé. Não somos turistas de alto luxo, somos peregrinos de fé e de alegria, passando esforços, sede e sacrifícios, até chegar à meta de destino: o encontro com o Sumo Pontífice, na vigília e missa campal, para ouvir sua palavra de fé e amor.
Como dizia um bispo que presidia uma Santa Missa para nossos grupos romeiros: os jovens não são gafanhotos que deixam destruição onde passam, mas uma alegria contagiante, pra serem um sinal de fé ao mundo. O sacrifício da maioria dos jovens, o meu também, começou já há dois anos para reunir suas economias para poder empreender essa viagem, tão intensa e significativa. Fazem promoções, vendem lanches, pasteis e pizzas, lavam carros ou outras formas de reunir as parcelas necessárias para a Jornada.
Eu fiz trabalhos manuais nas horas vagas para custear minha viagem. Cada um faz sua parte. Mais ainda: o jovem mostrando seu rosto, seu entusiasmo pra dizer que Cristo ama a cada ser humano da forma como é, sem medos, sem fronteiras, sem discriminação de raça e de cultura. Deus ama, simplesmente porque ama. A paz entre os povos é possível se vivermos o amor."