Um efeito nefasto da crise é o sumiço do dinheiro: quem tem reluta em emprestar e, quando empresta, cobra juros salgados. Embora a taxa básica da economia, a Selic – que orienta o custo do dinheiro no Brasil –, tenha parado de subir em junho do ano passado, bancos e financeiras continuam encarecendo o crédito. Conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o juro médio dos empréstimos para pessoa física voltou a subir em março, chegando ao maior nível desde janeiro de 2004: 7,77% ao mês.
– Mesmo com esse juro, os bancos estão reticentes em emprestar, pois avaliam que o risco de inadimplência é cada vez maior – aponta o diretor-executivo da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira – Quem precisa tomar empréstimo tem de redobrar o esforço para encontrar opções mais baratas.
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A alternativa mais corriqueira ao empréstimo bancário são os consignados, com desconto em folha, e oferecidos por meio de parcerias entre bancos e sindicatos ou associações trabalhistas. Enquanto um empréstimo pessoal convencional tinha juro de 4,6% ao mês em março, conforme a Anefac, as linhas com desconto em folha mantinham a taxa em 2,5%.
– Outra alternativa que tem se popularizado são os refinanciamentos, ou seja, o empréstimo dando um imóvel, automóvel ou até uma joia como garantia – observa o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, Samy Dana – Mas é preciso ter em conta o risco de perder um bem. Portanto, esse tipo só é indicado para quem tem bom planejamento financeiro e convicção de que irá conseguir pagar a dívida.
Em ritmo diferente ao de bancos e financeiras, em que as liberações cresceram apenas 5,3% nos últimos 12 meses, as cooperativas de crédito têm acelerado os desembolsos. Conforme Gustavo Saltiél, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Unicred no Rio Grande do Sul, que reúne 11 cooperativas financeiras, os repasses cresceram quase 20% em um ano no Estado.
– O principal fator que tem levado os bancos a apertarem o crédito, que é o risco da inadimplência, é menor nas cooperativas em razão de uma relação de confiança que se tem com o associado. Ele é parte do negócio – afirma Saltiél.
Independentemente da escolha pelo tipo de empréstimo, os juros, em geral, subiram tanto que é preciso que o consumidor pense duas vezes antes de tomar crédito, lembra Miguel de Oliveira, da Anefac. Priorizar pagamentos à vista é uma forma de evitar o risco que uma perda de emprego, por exemplo, deixe uma família na mão para quitar um empréstimo.
– O consumidor precisa redobrar o cuidado com o que gasta. Se as parcelas com dívidas chegam a 25% da renda, é hora de parar de pegar dinheiro emprestado e cortar gastos.