O consumidor gaúcho gosta de planejar o que vai dar em datas comemorativas, mas acaba comprando algum produto de última hora. Gasta uma média de R$ 125 nos presentes e prefere a segurança de comprar em shoppings. Mesmo pesquisando preços e avaliações na internet, termina por adquirir o item desejado em determinada loja. Essas são algumas das conclusões de um estudo que mapeou os hábitos de consumo em Porto Alegre nas cinco principais datas para o comércio: Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal.
Sabe-se que os costumes devem ser repetidos em outras celebrações, como a Páscoa – apesar de a data não ter sido incluída na pesquisa. Nesta época do ano, com lojas e supermercados recheados de ovos de chocolate, a perspectiva de compra vai sendo criada com antecedência pelo consumidor, que planeja o que dar, mas só tende a realmente adquirir o produto quando a data estiver bem mais próxima.
O estudo reforçou algumas informações que já eram de conhecimento dos lojistas – como a preferência pelo pagamento à vista, quando há desconto. Mas também surpreendeu quem lida com esse público. Se menos da metade dos entrevistados afirmou ter o costume de comprar presentes na mesma semana em que o dia especial é celebrado, no entendimento dos profissionais do comércio, essa porcentagem é muito maior: algo próximo de 70%.
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O local onde as compras são feitas também chamou atenção: a maior parte dos participantes da pesquisa, encomendada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) de Porto Alegre, prefere a segurança e a comodidade dos shoppings, ainda que isso signifique pagar mais caro pelo produto. E, apesar do crescimento do comércio online, apenas um terço dos entrevistados afirma que pesquisa na internet antes de realizar uma compra.
– A pessoa só vai comprar online se for planejada, porque o produto geralmente demora para chegar, e o consumidor gaúcho tem uma tendência, que é também do brasileiro, de deixar esses presentes para a última hora – diz o presidente do Sindilojas da Capital, Paulo Kruse.
A aposentada Teresa Waisman não é de comprar presentes só na véspera – tanto que os ovos de Páscoa que vai distribuir para os familiares no final do mês já estão todos guardados –, mas não abre mão de olhar e tocar nos produtos antes de adquiri-los.
– Prefiro comprar com bastante antecedência, porque aí não tem aquela loucura de gente correndo para achar alguma coisa para dar. Mas não gosto de usar a internet para isso, prefiro pesquisar de loja em loja mesmo.
As entrevistas foram feitas ao longo de oito meses, no ano passado, cada uma cerca de 60 dias antes da data comemorativa – uma antecedência que, como destaca a coordenadora da pesquisa, Luciana Morais, acabava pegando as pessoas desprevenidas. As perguntas sobre os presentes de Natal, por exemplo, foram feitas em outubro: época em que poucos estariam cogitando o que dar de presente no final do ano. A pesquisa ouviu 1,5 mil pessoas com mais de 18 anos em Porto Alegre.
Datas comemorativas e peculiaridades do consumo
Apesar de a pesquisa traçar um perfil médio do consumidor gaúcho, algumas características se destacam dependendo da data comemorativa. O Dia das Crianças é aquele em que mais se sabe com antecedência o que presentear. Os entrevistados atribuem isso a um protagonismo cada vez maior dos pequenos: eles sabem o que querem, pedem o produto desejado aos pais com muita antecedência e insistem no pedido.
Foi por isso que o porteiro Clóvis Soares saiu em busca de um tablet para dar de aniversário ao filho mais novo, Rafael. Produtos tecnológicos são os favoritos do garoto de nove anos e do irmão, Anderson, 14 anos: videogame e celular já fizeram parte da lista de desejos em anos anteriores, o que facilita para que Clóvis não erre no presente.
– No aniversário dele, no Dia das Crianças ou no Natal, prefiro sempre comprar presentes com antecedência. Eles sabem o que querem, e isso evita incomodação com a troca.
No Dia das Mães, Clóvis também seguiu uma tendência apontada pela pesquisa: deu uma lembrança para a mulher. O contrário, contudo, não costuma ocorrer. Entre as datas pesquisadas, o Dia dos Pais é o segundo com menor volume de vendas, enquanto o Dia das Mães só fica atrás do Natal, segundo o Sindilojas. Já a peculiaridade do Dia dos Namorados está no valor médio gasto: é nessa data que a pesquisa registrou o maior percentual de intenção de compras na faixa de R$ 350 e acima de R$ 500.
Há algo, porém, que não muda de acordo com a data pesquisada: as mulheres presenteiam mais, principalmente no Dia das Crianças e no Natal. A diferença só diminui, chegando quase a um equilíbrio, no Dia dos Namorados – quando 46,6% deles optam também por dar uma lembrança ao seu par.
Crise afeta valor dos presentes
O comércio sentiu o impacto da crise em 2015, e a expectativa para este ano é de que a situação econômica do país contribua para celebrações com menos gastos. Depois de registrar uma queda de 5,2% em 12 meses – o pior resultado desde que o indicador começou a ser pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2001 –, as vendas tendem a continuar em volume menor neste ano, no entendimento dos lojistas.
Em meio à crise, o que muda nas datas comemorativas não é o hábito de presentear, mas o valor que os consumidores estão dispostos a gastar. Em dias como o das mães e dos namorados, não se deixa de dar alguma lembrança, mas os valores médios diminuem. Neste ano, devem cair cerca de 6%.
– Nas ocasiões como o Natal ou Dia das Crianças, quando é preciso dividir o valor, nota-se que os presenteadores optam por comprar mais unidades, mas de menor valor. Isso faz com que o ticket médio acabe seguindo a tendência – afirma o presidente da CDL Porto Alegre, Alcides Debus.
Em 2015, a maior parte dos entrevistados declarou a intenção de gastar um máximo de R$ 200 nos presentes – inclusive em vaquinhas com irmãos nos dias das mães e dos pais, por exemplo –, mas quase um terço das pessoas afirmou que a compra ficaria entre R$ 50 e R$ 100.