É quase impossível passar pelo britânico Neil Harbisson sem olhar duas vezes.
- Tenho de falar com estranhos o tempo todo. Alguns riem, outros admiram. Mas não há um dia sequer que termina sem que me perguntem o que tenho na cabeça.
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Harbisson se refere à antena que foi implantada atrás do seu crânio em 2004. Neste sábado, na Campus Party, ele palestra sobre o direito de as pessoas se tornarem ciborgues, assim como ele.
- Não quero encorajar os outros a usarem tecnologia, mas, sim, a serem tecnologia - diz.
O britânico de 33 anos nasceu com uma doença chamada acromatopsia, uma condição que não permite a percepção de cores e recorreu à tecnologia para ampliar suas sensações.
- Nunca quis mudar a minha visão, eu queria ter um novo sentido relacionado às cores. Quem vê o mundo todo cinza consegue enxergar melhor as formas das coisas. Além disso, fotocópias em preto e branco são mais baratas - brinca.
A antena funciona como um olho eletrônico. Em parceria com cientistas europeus, ele criou um mecanismo que detecta as cores que estão a sua frente e envia vibrações para o um chip que está instalado atrás do crânio. Da condução óssea até o sistema auditivo, ele consegue "escutar as cores". Cada uma tem um som específico. Pequenas experiências cotidianas passaram a ter um novo significado. Ir a um museu de arte é como entrar em um quarto onde toca uma sinfonia, cada obra tem sua própria música, explica ele. Da experiência, ele fez arte. No Youtube, por exemplo, Neil mostra algumas das suas obras, como retratos feitos com "sons".
Antes do "eyeborg", nome dado à antena, Neil passou a infância criando diferentes métodos para sentir as cores. Uma delas era associar cada tom a uma pessoa diferente.
- Vermelho representava um menino que era apaixonado pelas coisas. Quando alguém falava na cor, eu lembrava dele - conta.
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Em 2010, ele e a artista catalã Moon Ribas criaram a Fundação Cyborg. A amiga possui um chip implantado no cotovelo. Cada vez que um terremoto acontece em alguma parte do mundo, o corpo de Moon vibra. Juntos, eles defendem que as pessoas tenham direito a ser ciborgues e querem promover o ciborguismo como arte. Antes radicados na Europa, ambos hoje vivem em Nova York.
- As pessoas aceitam mais aqui, são mais tolerantes - afirma.
Os planos para continuar a transformação ciborgue incluem a implantação de um sistema bluetooth nos dentes, para que ele possa controlar a antena com a boca.