Muito se fala sobre o problema da distração em celular ao volante, mas outro perigo digital - a distração nas calçadas - não para de crescer, muitas vezes com consequências desastrosas. Todos nós já vimos quando alguém olha para baixo para mandar mensagem, tuitar, ler ou jogar no celular e "sai dos trilhos", dando um encontrão nos que estão andando em linha reta. Um estudo da Universidade Stony Brook, de Nova York, descobriu que as pessoas distraídas chegam a desviar até 61% da rota enquanto mandam uma mensagem.
O fenômeno é mais comum entre os membros da geração Y, que têm idades entre 18 e 34 anos. As mulheres com mais de 55 anos são as vítimas mais propensas a sofrerem lesões sérias, diz um estudo de 2013. Visitas ao pronto-socorro por ferimentos causados por pedestres e seus celulares mais que dobraram entre 2004 e 2010 e só aumentam. Lesões incluem fratura de quadril e ferimentos nas costas, na cabeça e no pescoço entre mais de mil pessoas hospitalizadas por acidentes ao manipular o celular enquanto andavam.
De acordo com o Conselho Nacional de Segurança dos EUA, "o volume de acidentes entre pedestres distraídos com o celular é proporcional ao aumento do uso do celular, oito vezes maior nos últimos 15 anos". Os acidentes entre os distraídos digitais podem ser sérios e incluem atropelamentos, queda de escadarias, tropeções, choques com portas de vidro ou mergulhos em chafarizes e piscinas. Em Benton Harbor, no estado de Michigan, uma mulher mexia no telefone enquanto andava e caiu de um píer, a uma altura de quase dois metros, nas águas geladas do lago Michigan. Resgatada por um rapaz de 19 anos e constrangida, ela espera que o incidente faça as pessoas perceberem que andar e mexer no celular ao mesmo tempo pode ser um "problema".
A maioria parece achar que a questão tem a ver só com os outros. Ninguém admite que anda com os olhos e a cabeça no visor. Uma pesquisa com 6 mil pessoas feita pela Academia Americana de Cirurgiões Ortopedistas, divulgada este mês, descobriu que, embora 74% tenham dito que "os outros" sempre andam distraídos, apenas 29% admitiram ser parte do problema. E só 46% consideram o comportamento "perigoso".
Setenta por cento dos "millennials" (geração de jovens nascidos entre 1980 e 2000) pesquisados consideram caminhar distraído uma questão perigosa; entre os que têm 35 anos ou mais, essa proporção sobe para 81%. Metade dos jovens da Geração Y considera a ocorrência "constrangedora, mas engraçada", o que sugere que talvez não ache que é um problema lá muito sério.
A pesquisa, realizada para a academia pelo instituto Ipsos Public Affairs, em outubro, concluiu que, entre os moradores das oito maiores cidades dos EUA, os nova-iorquinos são os que mais descrevem o problema como "sério" (86%), embora sejam os primeiros a cometer a infração, mais do que nas outras sete cidades.
- Vejo um monte de gente que se machuca tropeçando na sarjeta, caindo num buraco ou sendo atropelada por um carro que não viu, mas quase ninguém admite que a distração foi causada pelo telefone. E você sabe que foi exatamente por isso porque, quando chegam ao meu consultório, em vez de interagirem comigo, não param de olhar para a tela do celular ou falar ao telefone - conta Claudette M. Lajam, ortopedista do Centro Médico Langone da Universidade de Nova York e do Hospital de Doenças Articulares.