Foi com um abraço emocionado que Leonardo Konarzewski, 21 anos, pôs fim a saudade da namorada Aline Schutt, 20 anos, após nove meses de distância.
- Sinto muita saudade da minha família e de uma pessoa muito especial: a minha namorada, a primeira pessoa que eu quero abraçar - disse o jovem na sexta-feira à reportagem dois dias antes de embarcar de volta rumo a Porto Alegre. O gaúcho, que estava desde março nos Estados Unidos para tratar um linfoma de Hodgkin, aterrissou em Porto Alegre às 15h43min desta segunda-feira para a alegria das dezenas de pessoas que o esperavam no saguão do terminal 2 do Aeroporto Salgado Filho.
Assista ao reencontro:
Quando se conheceram em Arroio Teixeira, em janeiro deste ano, Leo já estava em tratamento contra a doença. Após uma última sessão de quimioterapia, ele avisou a namorada que viajaria em busca de um novo tratamento no Exterior.
Jovem faz rifa de Fusca para continuar tratamento de câncer
- Quando ele disse que tinha que ir meu coração quase não aguentou. Foi muito difícil, não imaginávamos que seria tanto tempo - lembrou a jovem.
Veja a galeria:
A distância foi superada, em parte, por conversas quase diárias pelo WhatsApp e pelo Skype. Depois que o tratamento foi se intensificando, os contatos ficaram mais escassos e se resumiam a poucas mensagens pela manhã ou pela noite.
- Meu coração ficou muito apertado - descreveu.
Saiba mais sobre o linfoma, tumor que afeta o sistema de defesa do organismo
Para reencontrar Leo depois de tanto tempo, Aline deixou o escritório de contabilidade onde trabalha, em Tramandaí, no Litoral Norte, pouco depois das 13h30min. De carona com um tio, ela pegou a Freeway e desceu no Salgado Filho pouco depois das 15h. Conhecida por todos que se engajaram na campanha que ajudou Leo a arcar com as despesas do tratamento nos Estados Unidos, quando entrou no saguão do terminal antigo do aeroporto foi recebida com muita festa por quem aguardava o retorno de Leo. Ansiedade podia ser o segundo nome de Aline durante aqueles minutos de espera.
O sentimento virou alívio quando ele finalmente desembarcou.
Logo que despontou no portão de desembarque - usando uma touca e uma máscara -, Leonardo cumpriu o desejo: levantou-se da cadeira de rodas e abriu os braços para Aline, que não conteve as lágrimas e foi ao seu encontro.
- Espero que agora a gente fique bastante tempo juntos - disse o garoto, emocionado.
Família "Leozeira" marcou presença no aeroporto
Dezenas de pessoas com faixas, cartazes e instrumentos em punho, faziam coro enquanto aguardavam em frente ao portão de desembarque. Quando avistaram Leonardo, começaram a gritar ainda mais alto:
- Leonardo, e dá-lhe Leonardo.
Gaúcho faz vaquinha para financiar tratamento de câncer nos Estados Unidos
Intitulada de "Família Leozeira", o grupo foi peça fundamental na divulgação e arrecadação de dinheiro para auxiliar nos custos da viagem.
- Queria abraçar todos eles, mas infelizmente eu não posso. Quero que vocês se sintam abraçados por mim. É muita emoção, não cabe dentro de mim. O mais importante, e eu agradeço a essas pessoas aqui e a todas as outras, é que o objetivo foi cumprido. Eu consegui fazer o transplante e tenho certeza que vou obter a cura agora - falou Leo.
Namorada planejava viajar aos EUA
Longe de casa e passando por um tratamento muito difícil - que incluiu diversas sessões de quimioterapia, radioterapia, exames exaustivos, coleta de células-tronco e, enfim, o transplante - Leonardo passou muitos dias internado, para desespero de Aline, que se comunicava com Lourdes Konarzewski, mãe do menino, para ter notícias do namorado:
- Eu queria pegar um avião e ir pra lá.
Ainda sem saber que o jovem voltaria para casa, Aline e Luciana, irmã de Leonardo viajaram juntas até São Paulo no dia 1º de dezembro para providenciar os vistos de entrada nos Estados Unidos. Elas planejavam passar as festas ao lado do jovem. A notícia que todos esperavam veio há cerca de duas semanas, quando Leo contou para Aline que voltaria para o Brasil para passar as festas de fim de ano:
- Ainda não caiu a ficha. No momento em ele disse que ia voltar foi três vezes pior do que quando ele falou que iria viajar. Faltou até ar.
Relembre o caso
Chegar aos EUa não foi fácil. A batalha começou ainda no Brasil, quando o gaúcho teve o visto negado para entrar nos EUA por falta de dinheiro suficiente para o tratamento: US$ 22 mil. Sem ter a quem recorrer, Leonardo lançou uma campanha na internet para arrecadar fundos. O apelo ganhou repercussão com a ajuda de jogadores e ex-jogadores da dupla Gre-Nal, da atriz Marina Ruy Barbosa, do surfista Gabriel Medina e até de Neymar e David Luiz. A mobilização foi determinante para que Leo, como é conhecido, arrecadasse o valor necessário para embarcar rumo a Rochester, no Estado de Minnesota, onde faria o tratamento na Mayo Clinic.Parte do caminho parecia concluída. Mas a surpresa veio logo depois do início das sessões de quimioterapia: o tratamento custaria US$ 250 mil.
- Foi muito difícil o que a gente passou aqui - disse a mãe, Lourdes, na sexta-feira, ainda nos Estados Unidos.
A luta ficou ainda mais complicada depois que o procedimento não foi autorizado pela clínica, que exigia depósito antecipado. Diante das incertezas, a família decidiu rifar um Fusca 1985, herança do avô, para manter as despesas fora do país. Comovida com a história, uma médica americana sugeriu que Lourdes procurasse o seguro de emergência de Minnesota, que cobre tratamentos para estrangeiros, requisitando o pagamento da radioterapia para Leonardo. A primeira vitória veio 20 dias depois, em 30 de junho: o governo local bancaria a despesa médica. Enquanto Leonardo era submetido às sessões, um novo pedido emergencial foi feito ao Estado norte-americano.
Em 22 de setembro, Leonardo e Lourdes receberam duas notícias. A primeira os encheu de alegria. O pagamento do transplante foi autorizado. A segunda foi um baque. O câncer havia se espalhado pelo corpo do jovem, o que o obrigaria a passar, novamente, por sessões de quimioterapia que o habilitassem a realizar o procedimento.
Após os percalços, Leonardo nasceu de novo em 20 de novembro, quando o autotransplante de medula óssea foi realizado.
Leo ainda não terminou o tratamento. Ele precisará fazer exames de sangue a cada três dias enquanto estiver no Brasil. Em fevereiro, deve voltar aos EUA para uma nova avaliação. Se o câncer estiver em remissão, poderá retornar de vez ao Brasil. Mas precisará voltar aos EUA duas vezes por ano durante cinco anos.