- Não teve um dia em que eu não sonhava que estava pegando o avião.
Num misto de felicidade e ansiedade, Leonardo Konarzewski conta as horas para pisar de novo em solo gaúcho. O jovem de 21 anos, que está desde março nos Estados Unidos, onde realizou um transplante para tratar um linfoma de Hodgkin, desembarca em Porto Alegre hoje à tarde. Na chegada, vai ter festa: em um evento criado no Facebook, mais de 120 pessoas confirmaram presença na recepção no aeroporto Salgado Filho.
Chegar ao destino foi um caminho tão ou mais tortuoso que o tratamento em si. A batalha começou ainda no Brasil, quando o gaúcho teve o visto negado para entrar nos EUA por falta de dinheiro suficiente para o tratamento: US$ 22 mil. Sem ter a quem recorrer, Leonardo lançou uma campanha na internet para arrecadar fundos. O apelo ganhou repercussão com a ajuda de jogadores e ex-jogadores da dupla Gre-Nal, da atriz Marina Ruy Barbosa, do surfista Gabriel Medina e até de Neymar e David Luiz. A mobilização foi determinante para que Leo, como é conhecido, arrecadasse o valor necessário para embarcar rumo a Rochester, no Estado de Minnesota, onde faria o tratamento na Mayo Clinic.
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Parte do caminho parecia concluída. Mas a surpresa veio logo depois do início das sessões de quimioterapia: o tratamento custaria US$ 250 mil, soma nem de perto alcançada pela campanha.
- Foi muito difícil o que a gente passou aqui - disse a mãe, Lourdes, na sexta-feira, ainda nos Estados Unidos, sem conter o choro. - O Leonardo está muito ansioso. Ele precisa, eu preciso voltar. Estamos esgotadíssimos emocionalmente e fisicamente. A gente viveu um pesadelo, estou muito abalada.
Sem recursos, família vende rifa de fusca 1985
Sem dominar a língua estrangeira, a luta ficou ainda mais complicada depois que o procedimento não foi autorizado pela clínica, que exigia depósito antecipado.
- Em 31 de maio, ele estava pronto para o transplante, mas não tínhamos o dinheiro - lembra a mãe.
Diante das incertezas, a família decidiu rifar um Fusca 1985, herança do avô, para manter as despesas fora do país. Comovida com a história, uma médica americana sugeriu que Lourdes procurasse o seguro de emergência do Estado de Minnesota, que cobre tratamentos para estrangeiros, requisitando o pagamento da radioterapia para Leonardo. A primeira vitória veio 20 dias depois, em 30 de junho: o governo local bancaria a despesa médica. Enquanto Leonardo era submetido às sessões, um novo pedido emergencial foi feito ao Estado norte-americano.
Em 22 de setembro, Leonardo e Lourdes receberam duas notícias. A primeira os encheu de alegria. O Estado americano havia autorizado o pagamento do transplante. A segunda foi um baque. O câncer havia se espalhado pelo corpo do jovem, o que o obrigaria a passar, novamente, por sessões de quimioterapia que o habilitassem a realizar o procedimento.
Após todos os percalços, Leonardo nasceu de novo em 20 de novembro, quando o autotransplante de medula óssea foi realizado.
- Os primeiros dias foram difíceis. Bateu um certo medo. Tive episódios de mal-estar como nunca havia passado. Pensei "o que está acontecendo comigo?". Mas duas semanas depois me sentia bem melhor e, hoje, já me sinto disposto a fazer a viagem de volta - disse.
Como ainda não terminou o tratamento, Leo precisará fazer exames de sangue a cada três dias aqui. Em fevereiro, deve voltar aos EUA para uma nova avaliação. Se o câncer estiver em remissão, poderá retornar de vez ao Brasil. Mas precisará viajar aos EUA duas vezes por ano durante cinco anos, período em que pode ser considerado curado ou não do câncer.
Assim que chegar a Porto Alegre, o primeiro desejo de Leo é abraçar a namorada, Aline Schutt. Outra saudade são as pizzas brasileiras. Como precisará voltar aos Estados Unidos, Leo lembra que a rifa do Fusca ainda tem 1,9 mil números disponíveis.
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