Por quase um ano, Betina Motta Lopes tem se dedicado a um dos mais ambiciosos projetos de seus oito anos de vida. De olho em latinhas de refrigerante, suco ou cerveja, ela aborda amigos e familiares com um pedido enternecedor:
- Tu pode me dar o lacre porque eu vou conseguir uma cadeira de rodas para um vovozinho ou uma vovozinha de um asilo lá perto da minha casa?
O esforço já rendeu um estoque de impressionantes cem garrafas PET, com pelo menos 2 mil lacres cada uma. Há ainda dois sacos grandes, repletos. A estudante do 2º ano lançou-se ao desafio de angariar as milhares de pecinhas de alumínio depois de visitar o Lar Dom Guanella, no bairro Protásio Alves, em Porto Alegre. Estava na companhia da mãe, a professora Ana Cristina Motta, que realizava uma atividade com os alunos. Diante de idosos se deslocando com dificuldade ou sem condições de caminhar até a cozinha ou o banheiro, Betina descobriu que a instituição coletava as unidades e ofereceu-se como parceira.
Crianças mudam o lanche em solidariedade à colega
A troca por cadeiras de rodas é intermediada pela rede Rotary no Rio Grande do Sul. Cada quilo é vendido a R$ 3,30 a uma metalúrgica. São necessários 90 quilos (o equivalente ao conteúdo de 140 garrafas plásticas de dois litros bem cheias) para obter R$ 297, valor de uma cadeira de rodas acrescido do frete. Em quase dois anos, a campanha já conseguiu o suficiente para a aquisição de quase 60 cadeiras.
Menino deixa cabelo crescer para ajudar crianças com câncer
Betina começou buscando latas pelas ruas e em festas da família. Guardava os lacres nos bolsos e, em casa, armazenava-os em um saco plástico. A novidade logo mobilizou parentes, que multiplicaram os contatos - uma das maiores contribuintes é uma criança de Tramandaí que Betina nem conhece. Os resultados miúdos, que levaram tempo até se avolumar, chegaram a desanimar os adultos.
- Deixa isso. Dá um tempo - suplicou certa vez o pai, o motorista Leandro Rossoni Lopes.
"A gente só precisa fazer, ser inspiração", diz Ingrid Soto
Betina não parou. Improvisou um funil, para facilitar a passagem dos punhados de lacres pelos gargalos, e tem se dividido entre a gincana das latinhas e as brincadeiras com as Barbies e Fofoletes.
- Ela foi tendo retorno, a quantidade foi crescendo. É uma faceirice botar tudo nas garrafas - conta Ana Cristina.
No Lar Dom Guanella, a administração contabiliza entre 80 e 90 garrafas com lacres - somando-se com o acervo de Betina, que planeja entregá-lo até o fim deste mês, já há o suficiente para uma cadeira de rodas. A menina garante que continuará mobilizada até obter o suficiente para uma segunda cadeira.
- O legal é saber que uma sementinha pode desencadear uma corrente do bem. Ela aprendeu a ser um ser humano melhor, a pensar no próximo - comemora a mãe.