Não estranhe se, às 16h29min de hoje, avistar um carro voador. Será o DeLorean movido a lixo e pilotado por Doc, trazendo a bordo Marty McFly. Eles é que talvez estranhem o mundo que encontrarão - bem diferente do 21 de outubro de 2015 imaginado pela trilogia cinematográfica De Volta para o Futuro, sucesso das décadas de 1980 e 1990.
Para futuristas, realidade de 2015 é mais impressionante do que no filme
Na ficção, Marty e Doc, egressos de 1985, encontrariam, 30 anos depois, artefatos tecnológicos como um skate voador, o tênis automático, a jaqueta que se ajusta ao corpo e o robô que passeia com cachorros. Essas previsões do cineasta Robert Zemeckis, que dirigiu os três filmes da série, deram errado, mas ele pode se gabar de ter antecipado coisas como os drones, as telas planas e os óculos inteligentes - algo como o Google Glass.
ZH também resolveu brincar de futurologia. Se rompêssemos a barreira do tempo para avançar 30 anos, o que iríamos encontrar? Conversamos com estudantes dos cursos de Engenharia e de Design de duas universidades de Porto Alegre para imaginar o mundo de 21 de outubro de 2045.
De jaleco, entre o trabalho que desenvolve em um laboratório de engenharia e as aulas do curso de Engenharia Mecânica na PUCRS, Vitor Paim, 19 anos, dá a letra: o futuro está no desenvolvimento das nanotecnologias.
As pesquisas que manipulam matérias em escala molecular, de tamanho infinitamente pequeno, não são novas, mas ainda futurísticas. O termo foi cunhado em 1974, na Universidade Científica de Tóquio. Quando passou da teoria para os laboratórios, já neste século, começou a fazer parte do dia a dia de quem pensa o amanhã.
- Hoje, temos realizado, em todo o mundo, pesquisas avançadas sobre a aplicação de nanotecnologias, como o nanofiltro de carbono ou o grafeno que, em alguns anos, certamente farão parte do nosso dia a dia. Esses materiais são 10 vezes mais resistentes do que o plástico. Celulares, computadores e carros provavelmente serão produzidos a partir desse tipo de tecnologia. Isso significa que eles serão menos frágeis, e mais seguros, e muito mais leves do que os ultramodernos disponíveis nas lojas de hoje - projeta Vitor.
Nem tão difícil de inventar
Marte não estava no horizonte de Marty McFly, mas simboliza um sonho antigo do homem, o de encontrar vida extraterrestre. Dois anúncios recentes - a descoberta de água salgada no chamado Planeta Vermelho e de água gelada em Plutão -, feitos pela NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, atiçaram a comunidade científica e os aficionados pelo tema. Otimista, o arquiteto e mestrando em relações internacionais da Unisinos Paulo Sergio Clemente da Graça, 49 anos, arrisca-se a prever:
- Hoje, parece absurdo, mas, em 30 anos, acredito que não apenas o homem terá, finalmente, viajado para Marte, como também já estará construindo colônias nesse lugar que agora nos parece inóspito.
Se a, digamos, expansão imobiliária rumo ao espaço sideral ainda parece coisa de outro planeta, que tal pensar em coisas mais prosaicas? Há quem espere que, daqui a 30 anos, enfim a humanidade tenha resolvido problemas tão simples quanto arcaicos, como o guarda-chuvas. Existem registros de que o acessório já era usado pelos chineses no século 12 a.C. Mais de 3 mil anos depois, campanhas de financiamento coletivo tentam ajudar startups a desenvolver dispositivos que impeçam que a sombrinha de cada dia vire do avesso em dia de ventania.
Para o estudante de engenharia Matheus Guimarães, 18 anos, o futuro reserva melhorias em produtos que não foram modernizados:
- Quem pensou no guarda-chuva da forma como é esqueceu que são as pessoas que devem ficar no centro, e não o cabo. Em 30 anos, espero encontrar um acessório em que o cabo fique mais na ponta, sobrando mais espaço para nos protegermos.
Já a estudante de design da Unisinos Laura Klemenchuk dos Santos, 19 anos, eliminaria de 2045 a clássica dupla papel e caneta. Aliás, até o tablet tem dias contados.
- Levaremos um dispositivo muito pequeno que acionaremos para criar uma espécie de lousa. Assim, em aula, poderemos criar em tamanho real alguns desenhos e entregar ao professor já pronto - diz Laura, citando um artefato que remete ao filme Minority Report (2002), de Steven Spielberg.
Na onda holográfica e cinematográfica, a colega de curso Jade Teixeira, 23 anos, imagina uma versão mais "realista" de aplicativos que já não sabemos mais viver sem.
- Em Star Wars, quando as ligações são feitas, uma miniatura da pessoa aparece e interage com quem liga. Acredito que, em 2045, poderemos conversar dessa forma. Seria uma versão bem mais moderna do Whatsapp. Em vez de enviarmos áudios, vídeos e fotos para uma determinada pessoa, apareceríamos em uma versão reduzida no lugar em que elas estarão.
Mestre Yoda curtiu isso.
Inspirados na ficção
Não faltou quem surfasse na onda de previsões feitas por De Volta Para o Futuro. Apenas 1,5 mil Air Mags foram lançados neste ano pela Nike. Os cadarços automáticos não foram incluídos nos pares, mas eles seguiam à risca o modelo calçado por McFly quando ele chegou em 2015. A Pepsi Perfect também foi inspirada no filme. Quem se habilitou a ter o refrigerante da obra teve que desembolsar cerca de US$ 25 mil.
Sem volta para McFly
Um quarto filme De Volta para o Futuro ainda é improvável. Pelo menos foi o que disse o produtor-executivo Frank Marshall na última segunda-feira. Quando as datas previstas na trilogia se aproximaram, boatos sobre uma nova versão começaram a crescer no mercado cinematográfico. Robert Zemeckis, diretor dos três filmes (lançados em 1985, 1989 e 1990, respectivamente) foi mais longe em entrevista ao jornal The Telegraph, em julho:
- Isso não irá acontecer até que Bob Gale (corroteirista) e eu estejamos mortos.