Quem gosta de animais sabe o quanto a convivência com eles é capaz de alegrar e, por que não, transformar a vida de uma família. Um vídeo, postado no Facebook em junho deste ano - e que só na primeira semana teve mais de 12 milhões de visualizações - mostrava a emoção e a felicidade de crianças e adultos ao ganharem de surpresa um cãozinho. Mas surpreender alguém com um bicho de estimação é visto com muita ressalva por pessoas que lidam diariamente com animais.
- A decisão de presentear com um animal não passa simplesmente pela vontade. Tem de ter a consciência e a responsabilidade de analisar se a família tem condição de cuidar do bicho, seja do ponto de vista financeiro, já que ele vai demandar cuidados de saúde, vacinas e alimentação, seja do ponto de vista de tempo para dar atenção a ele - pondera Rodrigo Lorenzoni, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária.
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Não combinar previamente a entrada de um animal de estimação na vida de alguém pode trazer, sobretudo, grande sofrimento às partes envolvidas. Sonia Piumato, presidente da ONG Bichos & Amigos, depara com essa realidade todos os dias:
- Recebo diariamente ligações de pessoas querendo se desfazer de animais, seja porque vão se mudar para um lugar menor e não têm como levar o bichinho, seja porque eles cresceram e estão fazendo muita bagunça na casa. As pessoas precisam se conscientizar de que animais não são objetos. Não tem troca ou devolução. Eles são seres vivos e, como tal, demandam despesa e exigem atenção e um lugar com espaço adequado para viver. É preciso que haja uma posse responsável.
Se a intenção é presentear uma criança, uma conversa anterior com os pais se faz ainda mais necessária, já que, no final das contas, são eles que vão arcar com os cuidados.
- O animal nunca deve ser um presente surpresa. Isso deve ser conversado com a pessoa que vai recebê-lo. No caso das crianças, é claro que elas vão gostar, mas é preciso averiguar se os pais têm interesse e condições de cuidar. Porque muitas vezes o que acontece é que eles não têm, e o bichinho acaba sendo mal cuidado - argumenta Lorenzoni.
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Escolha incorreta pode terminar em decepção
A jornalista Carla Santos é a prova do quanto um presente mal pensado pode trazer transtornos para a família e para o próprio animal. Em 2011, o ex-
marido de Carla deu um furão para Bruna, a filha do casal. Por ser exótico, o bicho exige cuidados especiais com alimentação e vacinas e precisa ser assistido por um veterinário especializado em animais silvestres.
- Como sou contra criar animais em gaiola, construí um viveiro para que ele morasse. Mas o Furão é um bichinho muito sensível a temperaturas extremas. Então, em dias de excesso de frio ou calor, por exemplo, ele tinha de ficar solto dentro de casa. O problema é que ele precisava de atenção permanente, pois além de ter muita energia para brincar, se enfiava em tudo que era buraco. Era um caos para encontrá-lo - relata Carla.
A jornalista conta que Paçoca (como o furão foi batizado) comia a cada três horas. Os gastos com ração e veterinário chegavam em média a R$ 180 mensais. O animal era importado do Canadá e, devido a uma castração precoce, acabou
ficando doente.
- Ele chegou aqui em casa com dois meses de idade. Como era importado do Canadá, tinha de vir castrado. Por conta disso, acabou desenvolvendo uma doença nas glândulas suprarrenais, o que fazia com que perdesse muito pelo. Ficou conosco três anos e meio. Mas após três cirurgias, acabou não resistindo e morreu - conta Carla.
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Opiniões
"Se não houve uma consulta anterior, é preciso que a pessoa que recebeu seja franca, sob pena de que o bichinho acabe virando um "presente de grego". Não tem muito mistério. O ideal é que quem quer presentear pergunte se aquela pessoa não gostaria de ter um animal de estimação, para, daí sim, decidir pela compra. Animal é um ser vivo. Não dá para ir em uma loja e simplesmente trocá-lo".
Célia Ribeiro
Colunista de Zero Hora
"As pessoas precisam pesar muito bem os prós e os contras antes de dar um animalzinho para alguém. Adorávamos a Paçoca. Foi uma tristeza para a família toda quando ela morreu. E se ela não tivesse sido castrada de maneira tão precoce para entrar no Brasil, não teria ficado tão doente".
Carla Santos
Jornalista que ganhou um furão de presente
"Independentemente da espécie, os animais são vida. E com vida não se brinca. A gente respeita e cuida. Não vejo nenhuma espécie que seja mais indicada para dar de presente. Acho que tem de fazer essa conjunção entre o desejo de se ter um animal e as condições para cuidar dele".
Rodrigo Lorenzoni
Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária