O texto da revista destacava a "raridade" do acontecimento.
Fotos da reprodução da revista O Cruzeiro: Felipe Nyland/Agência RBS
Cerca de 16 anos depois, em 13 de junho de 1971, a história chegou à TV. Plinio e Geni e Eugênio e Jacir embarcaram para São Paulo a convite do Programa Silvio Santos, na época transmitido pela antiga TV Paulista (hoje pertencente à Globo).
O dia em que Farroupilha, na serra gaúcha, parou: assim poderia ser definido o 16 de julho de 1955. Há 60 anos, boa parte da cidade dirigiu-se à Igreja Matriz para acompanhar um casamento pra lá de insólito: o enlace dos gêmeos Eugenio e Plinio Sonaglio com as gêmeas Jacir e Geni Trevisan. Bastante curioso aos olhos de hoje, o duplo casório foi planejado nos mínimos detalhes: no mesmo dia, com uma mesma festa, terno igual para os noivos, vestido idêntico para as noivas, fotos juntos para a posteridade. As informações são do blog Memória, do jornal O Pioneiro.
Toda essa história teve início em meados de 1952. Filhos do empresário do setor hoteleiro e exportador Julio Sonaglio, Eugenio e Plinio costumavam jogar futebol no extinto time do Caruara e já conheciam de vista - e de torcida nos jogos - as futuras pretendentes. Pouco tempo depois, as duas irmãs aguardavam atendimento no consultório de um dentista quando Geni avistou, pela janela, os dois andando na rua.
- Disse para a Jacir que eles eram os ideais para nós - recordou dona Geni, 81 anos.
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Os pares foram escolhidos pelo nome: Jacir optou por Eugenio, Geni gostou de Plinio. A paquera evoluiu para um namoro sério quando os rapazes passaram a frequentar a casa das irmãs nos mesmos dias e horários - dando trabalho extra aos pais, que naqueles tempos tinham de "controlar" dois casais ao mesmo tempo. "Trabalho" eles davam também no dia a dia, quando saíam vestidos iguais e confundiam amigos e parentes.
- Mas a gente se reconhecia até de costas - recorda dona Jacir, lembrando que a mãe, dona Angela Trevisan, considerava uma ofensa não vestir os gêmeos com roupas iguais.
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O noivado veio após Plinio e Eugenio retornarem do serviço militar. Daí para o casamento foi um pulo. Com a igreja lotada de convidados, curiosos subindo pelos bancos e gente sendo afastada do corredor na hora da entrada, Jacir, Eugenio, Plinio e Geni foram abençoados pelo Monsenhor Bombardelli.
Era o início de uma história que ainda daria muito o que falar.
História na revista e na TV
A badalação em torno do casamento extrapolou os limites serranos. A história estampou uma página da edição de 17 de setembro de 1955 da revista O Cruzeiro, dois meses após a união.
Conforme dona Geni, o quarteto estava meio nervoso antes da entrevista.
- Demorou para ele (Silvio) nos chamar. Ele fez perguntas sobre as confusões geradas pela semelhança, mas correu tudo bem - recorda.
João Heilbrunn/Acervo de família/Divulgação
No Tempo da Cinderela
Gravada em uma quarta-feira, a participação dos gêmeos no quadro No Tempo da Cinderela foi ao ar no domingo seguinte, novamente concentrando as atenções dos telespectadores de Farroupilha. Eles ficaram sabendo, por exemplo, como dava-se a identificação de uma e outra.
- A regra era simples: quando íamos nos encontrar, eu sempre caminhava pelo lado da parede. E a Jacir, pelo cordão da calçada - lembra dona Geni.
Sempre juntos
Após a união, os dois casais moraram juntos por dois anos. A chegada dos filhos, porém, obrigou a "separação". A duplicidade, no entanto, continuou sendo uma marca da família. Da união de Jacir e Eugênio nasceram Gilberto e Julio Carlos. Geni e Plinio tiveram Tânia e Eliana.
Em 1982, dois anos após a celebração das bodas de prata do quarteto, seu Plinio faleceu. Mas a proximidade, característica da família desde sempre, não foi afetada: dona Geni, seu Eugenio e dona Jacir continuam vizinhos de porta até hoje.
Dona Jacir, seu Eugenio e dona Geni - Foto: Felipe Nyland