Ao entrar na sala de aula este ano, Joana Giordano Volkmer, Mateus Lemos Sinhoreli e Roberta Broetto Dias não encontraram mais as mesas organizadas em círculo. Sentados em classes individuais, os alunos ouvem as primeiras lições munidos de caderno, estojo e lápis próprios.
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Ao final do turno, levam tarefa para casa. As mudanças sentidas pela turma do primeiro ano do Ensino Fundamental do Colégio Mãe de Deus, na zona sul da Capital, despertam nos pitocos uma ansiedade semelhante a que sentiram na segunda-feira Yuri Gozdziuk, Vitor Azambuja e Ana Carolina Quintana, do terceiro ano do Ensino Médio. Só que ao contrário.
Enquanto os novatos abrem um leque de descobertas que começa pela alfabetização e passa gradativamente por conteúdos como matemática, ciências ou literatura, os veteranos estão com um pé fora do ambiente escolar. A escolha da carreira, a aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou no vestibular e a despedida dos colegas acompanham as novas responsabilidades que encontrarão ali, ao final deste ano letivo.
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Nos dois casos, o corte do cordão umbilical - com a "tia" do jardim de infância ou com a "sôra" do terceirão - representa um passo inquietante para o crescimento pessoal.
É coisa séria, mas tem de brincar
Antes acostumados a brincar e a se divertir com cores, sabores e sensações da Educação Infantil, os alunos que ingressam no primeiro ano geralmente chegam com muita vontade de voltar para a escola. Foi assim com Roberta, a filha da administradora Karina Broetto Dias, 36 anos:
- Ela estava muito ansiosa. Mal dormiu na noite anterior. Queria saber quem seria a professora, ter a classe só dela, essas coisas.
Mesmo sabendo que algo vai mudar quando chegarem ao colégio "dos grandes", a filha de Karina e seus colegas nem desconfiam o quanto sua vida se transformará dali em diante. Não imaginam, por exemplo, que pelos próximos 12 anos, gostem ou não, os professores, colegas, diretores e até o vigia da escola serão referências para sua visão de mundo. A partir do primeiro ano, há uma organização mais formal do conhecimento.
- A criança do Jardim B tem atividades que entram no mundo letrado, mas a leitura ainda é simbólica. Além de aprender a ler, escrever, fazer contas, a escola é o espaço onde a criança aprende a arte da convivência social. Fazer amigos, por exemplo, é uma das primeiras lições. A outra é querer ser alguém na vida - explica a coordenadora pedagógica do colégio Mãe de Deus, Salete Salvalaggio.
Como todo processo de transição, o ingresso no Ensino Fundamental pode gerar dificuldades e sofrimentos. Com a ruptura de uma educação mais focada no brincar para outra que mistura diversão e aprendizado, a pedagoga e mestre em educação Denise Arina Francisco alerta para que o excesso de tarefas não comprometa a infância:
- O que os pais têm de entender é que essa nova etapa não deve se tornar um massacre para as crianças. Tem de ter tempo para brincar.
Outra dica - essa da coordenadora do curso de Pedagogia do UniRitter, Ana Cristina Souza Rangel - é que pais e professores tenham o cuidado para que a escola seja um lugar onde o filho se sinta bem:
- O imaginário precisa ser fomentado para ela ter desejo de aprender.
Ansiedade em meio a decisões
Quando terminou o Carnaval, os veteranos do terceirão já sabiam bem o que iam encontrar na escola quando as aulas começassem.
- Por enquanto estou tranquilo. Acho que vai pesar mais no final de ano - diz Yuri Gozdziuk, 16 anos.
Tirando as mudanças de alguns colegas ou professores, depois de anos acostumados com o sistema escolar, os alunos já não estranham quase nada. Estranharão, sim, no ano que vem, quando a matrícula da faculdade tiver de ser feita por eles mesmos. Ou quando frequentarem aulas de cursinho pré-vestibular, tentando encontrar uma vocação.
No caso de Gozdziuk, essa dúvida transita entre ser engenheiro ou velocista. Já para Vitor Azambuja, que preside o grêmio estudantil do colégio, a escolhe se divide entre as carreiras de Direito e Jornalismo:
- Tenho receio de não saber como será lá fora, se vou conseguir conquistar o que pretendo.
Na reta final do Ensino Médio, a ansiedade em relação ao futuro é calcada em duas questões básicas, explica a pedagoga Ana Cristina Souza Rangel:
- Identificar-se com uma carreira e separar-se do grupo são questões delicadas.
Entre uma dúvida e outra, um sentimento que costuma aparecer nos alunos do terceiro ano é a "saudade antecipada".
- Isso faz com que eles demonstrem ainda mais carinho pela escola - aponta a coordenadora pedagógica Salete.
Mesmo que a disputa por vagas em universidades e no mercado de trabalho mobilizem a independência dos filhos, a orientação aos pais é acompanhar o crescimento com uma "autonomia monitorada".