Imagine que seu filho ganhou um apelido indesejado na escola. Desde então, ele passou a ser alvo constante de chacota por parte dos colegas e nunca mais chegou em casa entusiasmado com o dia de aula. O que acontece, nesse caso, é que seu filho está sendo vítima bullying - termo em inglês que significa "valentão". A agressão acontece intencionalmente, repetidas vezes, sem motivação evidente e causa dor e angústia. O agredido se sente impotente, sem capacidade de se defender e numa relação desigual de forças e poder.
O bullying é pauta cada vez mais frequente nas discussões escolares e familiares, e ninguém está livre de passar pela situação que causa inúmeros prejuízos, inclusive mais tarde, na vida adulta. E nenhum pai ou mãe gosta de saber que sua criança ou adolescente está sofrendo, não é mesmo?
Existem vários tipos de bullying: verbal, físico, material, moral, sentimental, psicológico, sexual e virtual. Quando a criança tem entre 8 e 12 anos, tem mais chance de ser atingida por isso. Está nessa faixa etária o maior número de casos. Isso porque é essa a fase de transição de criança para pré-adolescente, quando a gurizada já fala o que pensa e, em muitos casos, sem dó nem piedade.
O medo de ser excluído e de perder os amigos faz com que a maioria dos agredidos permaneça em silêncio e não conte nada para os pais. Mas é possível reconhecer mudanças no comportamento do filho. A psicóloga e psicanalista Lisiane Hadlich Machado afirma que os casos seguem frequentes, mesmo com o aumento da informação sobre o tema, mas avalia que os pais têm procurado mais por atendimento profissional. Normalmente, a família inteira precisa passar pela terapia, porque é um problema que afeta a todos.
- Os pais buscam ajuda para fortalecer a autoestima da criança, que ficou abalada com a agressão, e também para que os pequenos aprendam a lidar com a rejeição. Afinal, não existe nenhuma pessoa igual a outra. Somos diferentes e temos que entender isso - explica a psicóloga.
A orientação dos pais é fundamental
Agressões mal resolvidas na infância, podem causar depressão a curto prazo e fobia social a longo prazo. Um adulto que sofreu bullying quando pequeno ode partir do princípio de que será rejeitado por todas as pessoas e, então, evitar se relacionar com os outros. Além disso, pode se tornar um agressor no futuro, influenciando os filhos.
A psicóloga explica que existem vários graus de agressividade, que vão desde as crianças que apenas influenciam atitudes negativas nos outros (quebrar regras dos pais) até as que partem para a agressão física. No consultório, os casos mais comuns são de pré-adolescentes que são rejeitados pelo grupo de amigos da escola por causa do comportamento nas redes sociais.
- Ano passado, tive uma paciente que sofria no grupo de amigas porque postava poucas coisas nas redes sociais. Ela não gostava de se expor, então, passou a ser excluída do grupo por causa disso. Hoje, ela tem novas amigas e está bem resolvida com a situação - afirma a psicóloga Lidiane Hadlich Machado.
O importante é que a pessoa aprenda a se relacionar com quem a aceita e tem as mesmas afinidades, porque amizades são construídas para dar amor e acolher, e não para oprimir e humilhar.
Para evitar que seu filho sofra e pratique bullying, é preciso trabalhar desde cedo valores como tolerância, paciência, respeito e amor. Ingredientes que dão certo nas relações em qualquer idade da vida, em qualquer situação a que somos submetidos.
Projeto lança cartilha de orientação
O Projeto Orelhinha, ONG que oferece cirurgias corretivas de orelha de abano a baixo custo, lançou recentemente, em Porto Alegre, uma cartilha para orientar professores, educadores, pais e familiares sobre como enfrentar situações de bullying. O documento explica de forma simples e direta o que é o assédio e quais suas formas, destaca os sinais que as vítimas apresentam e orienta sobre como agir ao presenciar ações do tipo. Também ensina os pais a lidarem com a situação quando o filho é vítima ou quando ele é quem pratica o bullying.
- A participação da família e dos educadores é fundamental para minimizar os efeitos negativos que o bullying pode causar nas vítimas. Em especial, no aspecto da introspecção, da baixa autoestima e da queda do rendimento escolar - diz a presidente do Instituto Orelhinha, Leila Souto Miranda de Assis.
Interessados em receber a cartilha podem solicitar pela central de atendimento da instituição, pelos telefones 4062-0607 (capitais e regiões metropolitanas) ou 0800-718-7804 (demais cidades). Veja dicas apresentadas na publicação:
O que fazer quando seu filho sofre uma situação de agressão
- Parabenize seu filho pela coragem de falar com você sobre o que está acontecendo. Diga que ele não está sozinho e que juntos vocês poderão solucionar o problema
- Escute com atenção os relatos do seu filho sobre o incidente. Peça que descreva quem esteve envolvido, como, quando e onde aconteceram os episódios
- Descubra o máximo que puder sobre as táticas de perseguição ou intimidação que estão usando contra ele
- Estabeleça um vínculo de empatia com seu filho. Diga que intimidar é errado, que não é sua culpa. Pergunte a ele o que acha que você pode fazer para ajudá-lo
- Não culpe seu filho por ser perseguido. Não suponha que ele provocou os maus-tratos
- Enxergue isso como uma oportunidade para refletir sobre a própria cultura familiar
O que fazer quando seu filho é quem assedia
- Deixe claro que você considera os atos de perseguição ou intimidação sérios e que não vai tolerar tais comportamentos
- Crie regras claras e coerentes para sua família, que guiem o comportamento de seus filhos. Elogie e apoie quando eles seguirem as regras
- Passe mais tempo com seus filhos e supervisione cuidadosamente suas atitudes
- Conheça os amigos de seus filhos, permita que eles os convidem para vir à sua casa e preste atenção em como passam o tempo livre
- Promova os talentos de seus filhos, estimulando a participação em atividades sociais
- Compartilhe suas preocupações com o professor, coordenador ou diretor da escola
- Se você ou seus filhos necessitam de ajuda adicional, fale com um orientador escolar ou profissional de saúde mental
Meu filho é o agressor, e agora?
É mais difícil perceber quando o filho pratica bullying porque ele não conta e, normalmente, não sofre com as atitudes. Mas os pais podem ficar atentos à reações da personalidade, que se manifestam desde cedo ou repentinamente. O ideal é que as crianças tenham um bom convívio social, que se deem bem com os outros, façam amigos e tenham carinho por eles. Se algo está fora do que é considerado saudável, converse com seu filho.
Fique atento às reações abaixo:
- Normalmente, são pessoas menos sensíveis e mais agressivas
- Têm problemas de relacionamento na família
- Não pensam no bem estar do outro
- Ridicularizam o outro por uma satisfação pessoal
- Costumam fazer coisas escondidas dos pais
- Falam palavrões
Meu filho sofre bullying, o que faço?
Parar para conversar com o filho na correria do dia a dia é uma tarefa complicada para muitos pais. Ainda assim, faça um esforço: pare para ouvir como foi o dia do seu filho, quais suas reclamações, dúvidas, alegrias e conquistas. Somente com o diálogo e a convivência mais próxima será possível perceber mudanças no comportamento deles.
Quem sofre bullying costuma apresentar as seguintes características:
- As crianças ou adolescentes ficam mais tristes, deprimidos e isolados
- Muitas vezes, não querem mais ir para a escola
- Colocam-se para baixo, aumentando defeitos e diminuindo qualidades
- Em alguns casos, tornam-se pessoas agressivas