Elas se autodenominam lemingues e assim como os míticos roedores, cuja sensibilidade grupal é tão forte que os leva a se jogar de despenhadeiros, essas mulheres estão unidas em uma missão que, para quem está de fora, pode parecer se não desconcertante, certamente insana.
Os objetos de seu desejo - que buscam no eBay e/ou em terras distantes e sobre os quais fazem verdadeiros tratados em seus blogs - são vidros de esmaltes antigos. Mais especificamente cores que já estão fora do mercado e não podem mais ser compradas, mas sim garimpadas, esquecidas na caixinha de alguma manicure de um salão obscuro ou lojinha de bairro, à espera de que uma lemingue sortuda a acrescente à coleção e anuncie a façanha no Instagram para os outros membros dessa estranha subcultura.
Um item raríssimo para as entendidas é o Starry Starry Night, da Essie, geralmente abreviado SSN. O pigmento marinho, polvilhado de glitter prateado, é idolatrado por sua "construtibilidade", ou seja, pelo fato de que, com apenas algumas camadas, é possível obter uma profundidade impressionante.
Para quem não tem condições de adquirir um vidro do dito cujo (um leilão realizado no eBay em fevereiro terminou com um frasco sendo vendido por US$ 250), pingentes, brincos e outras peças pequenas de bijuteria pintadas com a cor estão disponíveis on-line.
Outra raridade: o Clarins 230, cor que saiu de catálogo em 2008 e vira e mexe é vendida por mais de US$ 150 no eBay; aliás, é tão difícil de ser encontrada que é conhecida como "xixi de unicórnio". Brilhante e profunda, a cor que é descrita como "o arco-íris em um vidro" oferece tons que variam do vinho ao verde, do dourado ao laranja.
Duas cores adoradas pelas garimpeiras de esmaltes: o azul Starry Starry Night, da Essie, e o vinho Clarins 230
Embora as duas cores sejam MDDA (muito difíceis de achar), há inúmeros "quebra-galhos", isto é, cores de outras marcas que são praticamente idênticas a elas (a mistura de duas cores para a obtenção de uma terceira, muito desejada, é conhecida como "fazer o Frankenstein").
-Depois que você começa a "caçar" esmaltes, percebe que as cores voltam periodicamente - garante Scrangie Marcanio, de 28 anos, blogueira de Chicago. - Ou alguém acaba lançando um tom idêntico -diz, contando que o primeiro esmalte verde que usou, um vidro da Wet & Wild foi comprado há mais de 10 anos.
Admirada por suas análises minuciosas e fotos de alta resolução, Scrangie se confessa obcecada por esmaltes, fotografa e escreve sobre o produto desde 2004 - e se refere ao blog como "o arquivo das unhas". Em cada post, dá detalhes sobre a fórmula, composição do glitter, a facilidade de aplicação, o pincel, o vidro, o cheiro, o tempo de secagem e quantas camadas são necessárias para dar um acabamento brilhante e duradouro. É conhecida por "amostrar" (jargão do setor que significa "testar novidades") até 50 vezes por dia - e quando a cor exige, tenta fotografar as mãos até no escuro e/ou depois de mergulhá-las em uma tigela cheia de água.
Ela, que geralmente encontra os esmaltes em mercados de pulga e vendas de garagem (atividade chamada "caçada empoeirada"), jura que nunca contou os vidros de sua coleção, mas calcula que esteja entre três e quatro mil.
Foto: Elizabeth D. Herman, TNYTS
Bem mais modesta é a de aproximadamente 650 vidros de Amy, a blogueira de 28 anos responsável pelo Gotham Polish. Como Scrangie, ela guarda suas preciosidades em um armário da Ikea, o Helmer, cujas gavetas têm a altura perfeita para a organização de pequenos frascos. (E, de quebra, mantém um registro das cores que possui em uma planilha.)
Há quem ache que esse passatempo é solitário e deprimente, mas não é. Rosalie Knox, artista de trinta e poucos anos que integra uma banda glam-punk, a Voluptuous Horror of Karen Black, compra esmalte nos saldões das lojas de cosméticos, lojas de perucas e de $1,99:
-Lugares onde ninguém compra nada há 20 anos -ela garante.
E organiza uma festa tradicional no Pyramid Club, em East Village, onde acende luzes negras e oferece serviços de manicure com luzes fluorescentes. Em uma noite de sábado recente, sentada na semiescuridão vendo as "corujas noturnas" desfilarem em roupas de couro, Rosalie explicou o fascínio que tem pelos esmaltes.
- É uma coisa fácil de colecionar. O frasco é pequeno. É uma coleção que dá para manter pelo tempo que se quiser, não necessariamente o resto da vida. É acessível.
Daniele Frazier, artista do Brooklyn, acrescenta:
- É uma sensação de "caça ao tesouro", uma coisa tipo parece que você ganhou na loteria.
Deborah Lippmann, que criou sua própria empresa fabricante de esmaltes e personaliza cores para celebridades que incluem Sarah Jessica Parker, Lady Gaga e Renée Zellweger, se sente lisonjeada pelas críticas favoráveis das blogueiras.
- Antes a mulherada achava que esmalte era só esmalte, e sou muito agradecida a elas por terem mudado de ideia. São a minha motivação para procurar meu químico e discutir novas possibilidades, me inspiraram a aperfeiçoar meu produto. São elas que não me permitem descansar porque estou sempre animada, querendo saber de cores novas.
Deborah confessa que há anos tenta obter o acabamento exato do relógio rosa-dourado da Cartier, mas afirma que a tecnologia para isso "não existe".