Diferentemente dos cães, que já estrelaram sucessos estrondosos de bilheteria nos cinemas, gatos não costumam ser bons atores. Tanto que não há felinos equivalentes a personagens como Lassie ou Rin Tin Tin. Em compensação, eles vêm roubando a cena por trás das câmeras e conquistam, há décadas, os corações dos famosos. É enorme a lista de personagens do showbiz que não dispensam a companhia de um bichano.
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A primeira celebridade da história do mundo, a rainha egípcia Cleópatra, tinha como companheiro inseparável um gato da raça Egyptian Mau, comum no Egito daqueles tempos. Mais recentemente, artistas continuam buscando a enigmática companhia dos felinos para trazer-lhes conforto e inspiração. O escritor americano Ernest Hemingway desfrutou, em vida, da presença dos gatos em sua casa na Flórida. Muitos dos animais que ele criou tinham uma mutação genética chamada de polidactilia, que os fazia ter seis dedinhos. Os descendentes dos gatos que conviveram com o escritor ainda perambulam pela casa, que hoje é um museu dedicado à memoria de Hemingway.
O artista plástico uruguaio Carlos Paez Vilaró, que construiu ao longo de décadas a Casa Pueblo, em Punta del Este, é fissurado pelos felinos. Mora com 13 deles, em uma edificação ao lado do museu, que é fechada ao público. O amor de Vilaró é tanto que sempre há uns gatinhos presentes em sua obra. A série de telas mais famosa do artista chama-se Mujeres y Gatos.
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Atores, atrizes e cantores também derretem-se de amor por seus amigos. Anthony Hopkins, Nicolas Cage, Morgan Freeman, George Harrison e Freddy Mercury são alguns famosos oficialmente apaixonados por bichanos e já fotografados na companhia dos seus.
O cinema e a literatura têm cenas antológicas com a participação deles. É inesquecível a imagem de Audrey Hepburn correndo na chuva atrás do Gato e, depois, já com o bichano no colo, reconciliando-se com o apaixonado Paul, vivido por George Peppard em Bonequinha de Luxo. Na obra prima de Eça de Queirós, Os Maias, o Reverendo Bonifácio é um personagem especial. O grande gato angorá envelheceu junto com Dom Afonso da Maia, experimentando com ele o peso e as mudanças que decorrem da passagem do tempo.
#GatosnoDonna
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As animações fizeram dos gatos os protagonistas de séries de grande sucesso, como o Gato Félix e Tom e Jerry. Um dos Looney Toons mais simpáticos é o gato Frajola, que gosta dos mimos da Vovó mas quer mesmo é devorar o Piu-Piu. O sucesso do desenho foi tanto que hoje é comum chamar os gatos de pelagem preta e branca de "frajolas".
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O ronron do gatinho
O gato é uma maquininha
Que a natureza inventou;
Tem pêlo, bigode, unhas
E dentro tem um motor.
Mas um motor diferente
Desses que tem nos bonecos
Porque o motor do gato
Não é um motor elétrico.
É um motor afetivo
Que bate em seu coração
Por isso faz ronron
Para mostrar gratidão.
No passado se dizia
Que esse ronron tão doce
Era causa de alergia
Pra quem sofria de tosse.
Tudo bobagem, despeito,
Calúnias contra o bichinho:
Esse ronron em seu peito
Não é doença - é carinho.
:: Sagrados e profanos
Se há um personagem que assumiu uma multiplicidade de papéis ao longo da história da humanidade, este é o gato. A primeira vez que se viu a figura do felino foi no Egito Antigo. Além de aliados no combate aos roedores nos estoques de grãos, uma das deusas da mitologia egípcia é representada por uma gata. Bastet, a deusa-gata, é a dona da fertilidade e do amor, além de ser uma das maiores aliadas de Rá, o deus-sol.
Na arte egípcia, Bastet é representada por uma mulher com cabeça de gata ou simplesmente pela figura de um gato doméstico ornado com joias. Por serem considerados a encarnação da deusa, os gatos se tornaram sagrados em todo o Egito.
Alguns historiadores especulam que, antes de se tornar uma divindade, o gato era uma iguaria nas mesas do país. Como precisavam dos felinos para controlar a população de roedores, os líderes teriam criado a devoção na figura dos gatos, com o objetivo de protegê-los da panela.
Depois de centenas de anos de escavações arqueológicas, gatos ainda são encontrados mumificados. Alguns em covas comuns, outros em sarcófagos elaborados. Guardiões do mundo espiritual, os gatos seriam os principais interlocutores do povo do Egito com os deuses. Naqueles dias, matar um gato era crime punido com pena de morte. Quando o bichano da casa morria por causas naturais, seus donos vestiam trajes de luto.
Como um aliado dos humanos no combate aos ratos, o gato doméstico se disseminou pela África e Europa. Foram tempos de harmonia entre as pessoas e os felinos.
Muitas centenas de anos depois, já na Idade Média, a coisa mudou de figura. No período de caça às bruxas, os gatos eram considerados instrumentos do mal e companhia preferida das senhoras solitárias acusadas de bruxaria. Tinham hábitos noturnos, o que lhes conferiu a péssima reputação. Nas grandes fogueiras da Inquisição, milhares de gatos foram queimados, junto com suas donas. Acreditava-se que as bruxas transformavam-se em gatas para operar suas maldades. Foi justamente nessa época que os gatos pretos tornaram-se sinônimo de azar.
O período de trevas passou, mas o gato não se recuperou imediatamente de sua má fama, pelo menos no Ocidente. Até hoje é comum encontrar quem diga que os gatos são traiçoeiros ou que os pretinhos são sinal de mau agouro.
Felizmente, tem gente que vê no bicho um símbolo de sorte. É conhecido no mundo todo um dos principais amuletos dos japoneses, o Maneki Neko, o gato que acena. Não se sabe ao certo a origem dessa tradição, mas no Japão o gatinho branco de orelhas vermelhas atrai sorte, dinheiro e prosperidade aos seus donos.
Uma lenda diz que uma senhora idosa e muito pobre, moradora da periferia de Tóquio, decidiu abandonar seu gato de estimação por não ter mais condições de sustentá-lo. Triste e com fome, a senhora colocou o gato na rua e foi dormir. No meio da noite o bichinho voltou e disse para sua dona que esculpisse uma estatueta dele em barro, para trazer-lhe sorte.
Na manhã seguinte, quando terminava de moldar a escultura, um homem que passava quis adquirir o objeto. Com o dinheiro, a idosa comprou alimentos para si e para o companheiro. E decidiu fazer outra estátua, que foi imediatamente comprada por outra pessoa.
E assim ela saiu das dificuldades em que se encontrava e o seu gatinho tornou-se símbolo de sorte em todo o Japão.
Companheiros há 9,5 mil anos
Até o começo dos anos 2000, pesquisadores acreditavam que a convivência entre humanos e gatos havia começado há cerca de quatro mil anos, no Egito. Domesticados devido à habilidade de caçar os roedores que podiam causar grandes prejuízos nos estoques de grãos, os gatos logo tornaram-se muito próximos dos homens.
Essa teoria começou a ser desmentida em 2004, com a descoberta de um gato sepultado próximo de um homem na Ilha de Chipre, no Mar Mediterrâneo. Segundo os arqueologistas, o animal viveu entre os anos 7500 e 7000 antes de Cristo, o que antecipa em pelo menos cinco mil anos o início da nossa relação com os bichanos. Como não havia espécies de gatos nativos na Ilha no período Neolítico, acredita-se que os homens introduziram voluntariamente os gatos no local.
O felino encontrado na cova em Chipre tinha aproximadamente oito meses e estava quase atingindo a idade adulta. A análise do esqueleto sugeriu que se tratava de um gato grande, maior do que os animais domésticos que conhecemos hoje. Seria um gato selvagem, parecido com os que se encontram hoje no Oriente Médio.