No Rio Grande do Sul, é impossível falar em humor feminino sem citar Ilana Kaplan, a estrela de dois megasucessos do nosso teatro: Passagem para Java (coletânea de textos dela, de Miguel Magno e Ricardo Almeida, 1986) e Buffet Glória (1991), escrita a partir de personagens criados por Ilana. De 2003 a 2005, Ilana integrou a trupe da Terça Insana, que ainda hoje segue em cartaz. Seus textos para o espetáculo, escritos em parceria com a irmã Ana, nasceram de improvisações e observações. Em dois anos, a dupla criou 19 personagens.
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- O humor sempre foi forte na minha vida, desde a infância. Olhando com distanciamento, eu acho que esse meu filtro cômico das coisas cotidianas é fruto da minha origem judaico-gaúcha, que faz com que eu não me leve a sério. E me ajuda a rir de mim mesma quase sempre - observa Ilana.
O projeto de Ilana, que atualmente mora em São Paulo e encerrou há pouco a temporada da peça O Terraço, com texto de Jean Claude Carriére, é retomar o trabalho com a irmã e lançar um espetáculo solo com várias personagens. O público agradece.
No Rio Grande do Sul de tantas e talentosas escritoras e atrizes, não são muitas as gurias que se dedicam ao humor. No teatro, Patsy Cecato e Deborah Finnochiaro volta e meia estão em cartaz com duas comédias que já são clássicos do público: Se Meu Ponto G Falasse (escrita por Patsy) e Pois É, Vizinha (de Deborah).
O humor sutil está presente nas obras de várias autoras gaúchas, mas não é a escolha principal dos seus trabalhos.
Mariana Kalil, a editora da revista Donna, estreou na literatura com Peregrina de Araque, bem-humorado relato de suas andanças pelo Oriente Médio, e prepara livro novo para 2013. A publicitária Magali Moraes, autora de Buffet e Diário de uma Demitida, conta que não escreve com humor intencionalmente:
- Se ficou engraçado, vai ver é por que eu estava me divertindo ao escrever aquilo - diz.
Sobre livro novo, conta que tem um pronto na gaveta, "se é que as traças já não devoraram. Assim como eu tenho retenção de líquidos, também tenho retenção de projetos. Muita coisa presa na cabeça. Numa hora dessas, sai". Humor, no fim das contas, é isso: algo para se fazer com seriedade, mas sem se levar a sério. Tudo indica que estamos chegando lá.
PIONEIRAS E SEGUIDORAS
Duas pioneiras vêm à cabeça quando se pensa em humor feminino: a escritora Dorothy Parker (1893 - 1967) e a atriz Mae West (1893 - 1980), ambas americanas e nascidas, por coincidência, em agosto de 1893. Ficaram famosas pela língua afiada e pela capacidade de rir das próprias desditas em um meio e um tempo onde as oportunidades eram sempre para os homens. Frasistas de mão cheia, Dorothy e Mae ainda hoje servem de referência para as mulheres que fazem humor. É de Mae um clássico da maldade feminina: "Quando sou boa, eu sou boa. Mas quando eu sou má, sou muito melhor". Já Dorothy cunhou, entre muitas outras pérolas, uma das maiores verdades sobre o sexo feminino: "Mulheres e elefantes nunca esquecem".
No Brasil pós-Dercy Gonçalves, várias mulheres têm se destacado pelo talento para fazer rir. Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães são bons exemplos. Depois de escrever em dupla a peça Cócegas, em cartaz desde 2001, e sempre com a casa cheia, as duas decolaram também em carreiras solo. A atriz Mônica Martelli, autora de Os Homens São de Marte... E É Pra Lá que Eu Vou, penou para estrear a comédia escrita em 2007, em um momento de baixa autoestima. De lá para cá, só aplausos e boas bilheterias.