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A falta no mercado dos anticoncepcionais injetáveis à base de acetato de medroxiprogesterona vem mexendo com os ânimos das consumidoras de todo o Brasil. O mais procurado deles, o Depo-Provera, do laboratório Pfizer, já não é encontrado nas farmácias desde o final de 2010. As reclamações não param de pipocar em consultórios médicos, lojas especializadas e na Internet. Até mesmo o similar Contracept, do Sigma Pharma, está com déficit no estoque.
Usado desde a década de 50, o remédio oferece em uma das suas versões a facilidade de as mulheres aplicá-lo a cada três meses. O mal-estar causado pela ausência se dá, além da praticidade, pelo fato de que o produto feito apenas à base de progesterona é a opção mais em conta para aquelas que não devem administrar os métodos combinados de derivados de estrogênio (hormônio feminino) e progesterona (hormônio masculino), que são a maioria das ofertas dos anticoncepcionais.
O ginecologista Ronald Bossemeyer diz que recebeu muitos telefonemas de pacientes que não sabem o que fazer. Ele afirma que há formas de contornar o uso com outros meios, mas esclarece que não há disponível nenhum outro remédio com a mesma formulação.
- As mulheres preferem esse por ser mais barato e mais prático. Mas não é apenas aquelas que não tem condições financeiras. Muitas chegam pedindo para usar este tipo, pois esquecem de tomar de outra forma.
A comerciante Ana Cláudia Ávila dos Santos, 38 anos, é dessas que não se adaptam com a pílula.
- Já tentei outros dois métodos depois da ausência do remédio e ainda não me habituei. Estou tomando uma que é mensal. A aplicação dessa dói bem mais, estou com mais TPM (Tensão Pré Menstrual) e cólica, coisa que nunca tive - conta.
Para a diretora administrativa da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul, Maria Celeste Osório Wender, existem outras formas de driblar os problemas que aquelas que estão habituadas ao Depo-Provera possam ter.
- Há métodos alternativos, mas é claro que passará por uma adequação de custo e de regime de uso - afirma Maria Celeste.
Quem está sentindo a falta
::Mulheres que não toleram combinações de hormônios
:: Hipertensas
:: Portadoras de lúpus (doença autoimune que provoca alteração na pele e nos rins)
:: Problemas de coagulação, como risco de trombose
:: Fumantes acima de 35 anos, com risco de doença arterial aguda
:: Quem tem sangramento anormal ou que está entrando na menopausa
:: Portadoras de endometriose ou mioma de útero
O que fazer?
O valor médio da injeção trimestral costumava ser de R$ 26.
:: Via oral: desogestrel (R$ 32) e norestiterona (R$ 9)
:: Implante subcutâneo: etonogestrel com três anos de duração (R$ 980)
:: Dispositivo intrauterino (R$ 820)
Vale lembrar que esses medicamentos não são idênticos ao Depo-Provera, por isso, antes de optar por qualquer novo método, o médico deverá ser consultado.
O que diz a Anvisa
Em nota, a assessoria de imprensa da Anvisa informou que a Pfizer solicitou recentemente a reativação da fabricação do Depro-Provera, mas a documentação ainda está em análise pelo órgão. Em fevereiro deste ano, uma nota oficial da agência dizia que "a Anvisa, em 15/09/2010, autorizou a suspensão temporária de fabricação do medicamento Depo-Provera, após constatação da Agência, em inspeção, de que a planta de fabricação (linha de produção) precisava ser adequada. Por causa do risco sanitário envolvido, a Anvisa autorizou essa suspensão temporária até que a planta esteja adequada às exigências sanitárias."
O que diz o laboratório
O desabastecimento de Depo-Provera é devido ao ajuste e adaptação no processo produtivo e na cadeia de suprimento do anticoncepcional, declarou a empresa, em nota. Trata-se de uma situação temporária que envolve as duas apresentações de Depo-Provera - 50 mg e 150 mg. Até o momento, não há previsão da regularização no abastecimento. Dúvidas e reclamações podem ser encaminhadas pelo telefone 0800-16 7575.