É difícil encontrar algum pai que não queira sempre colocar o filho em primeiro lugar. Mas em meio à dor e desordem de um divórcio, pode ser fácil esquecer-se disso. Segundo a conselheira familiar Sharon Chapman, da entidade britânica especializada em relações interpessoais Relate, a boa notícia é que o divórcio não necessariamente provoca efeitos negativos a longo prazo nas crianças.
- Acredito que é possível um divórcio ser bom no que diz respeito aos filhos. A curto prazo, não se pode esperar que as crianças fiquem felizes, mas vejo famílias e filhos que, lá na frente, dizem: "Na verdade, está tudo bem agora".
Para a psicóloga Linda Blair, as crianças também podem impedir que o divórcio se transforme em uma espiral de ressentimentos.
- Divorciar-se quando se tem filhos é mais fácil, de certa maneira, porque a obrigação de ser um bom pai é mais forte do que a raiva. Se você consegue entender que seu papel como pai não está terminando apenas porque seu casamento está, então você tem condições de superar muitos conflitos em relação a quem é dono do que.
Para minimizar o impacto, entretanto, os pais precisam concentrar-se nos filhos durante todo o processo que antecede à separação.
- As crianças se dão conta do que está acontecendo muito antes do que pensamos: se um dos pais passa a trabalhar até mais tarde, se as discussões se tornam mais ásperas ou se um dos dois passou a dormir no quarto de hóspedes - indica Linda.
Crianças mais novas tendem a se apegar mais, ou a dar sinais de regressão, e praticamente todas podem tornar-se "difíceis" ou apelar em busca de atenção.
- Muitas vezes os pais não relacionam o comportamento de seus filhos com o que está acontecendo na família. É difícil para um adulto ter seu papel de pai desafiado em um momento de extrema vulnerabilidade, assim como ter de estabelecer limites e ser constantemente testado quando tudo o que se querer é parar para respirar.
Tendo isso em mente, o melhor a fazer é tentar conversar imediatamente com as crianças sobre o que está acontecendo. Como isso será formulado depende da idade dos pequenos, mas Sharon Chapman adverte:
- Se você disser coisas como "mamãe e papai não se amam mais", eles podem pensar que vocês podem deixar de amá-los também - afirma a conselheira, recomendando ser honesto e específico. - A principal mensagem transmitida deve ser a de que eles ainda são amados por ambos os pais e ainda fazem parte da vida dos dois. É melhor o casal dar a notícia junto, mas se for preciso fazer isso sozinho, pode ser útil até mesmo ensaiar antes com alguém o que você vai dizer.
Caso tenha havido brigas, hostilidade ou outro problema, algumas crianças podem experimentar uma sensação de alívio, segundo Sharon Chapman. Mas isso também pode levá-las a um sentimento de culpa - e é preciso deixá-las seguras de que o divórcio não é culpa delas.
Convivendo com a separação
Limites claros são os melhores aliados para uma transição tranquila
:: Ainda que seja ideal que ambos os pais sigam comparecendo a eventos como reuniões escolares ou competições esportivas, tais situações devem ser evitadas caso não seja possível para o casal estar no mesmo recinto sem brigar.
:: Os filhos não podem ter dúvidas a respeito da relação dos pais: por mais tentador que pareça, celebrar um último Natal ou aniversário juntos pode ser perigoso. É preciso deixar bem claro que o papai só está ali para aquela refeição e vai para casa depois, evitando assim que as crianças recaiam em padrões antigos de conduta ou pensem que, se forem bons o bastante, podem fazer os pais voltarem a ficar juntos.
:: Insultar o outro na frente das crianças deve ser evitado a todo e qualquer custo, mesmo ao fim de uma relação abusiva. Demonizar o parceiro é como dizer que metade do seu filho é ruim.
:: Estabeleça o novo esquema da casa o mais breve possível, estipulando novas rotinas para gerar segurança. Se você ou seu parceiro deve ficar com eles todos os sábados, cumpra rigorosamente com o combinado no início, admitindo uma maior flexibilidade apenas com o passar do tempo.
:: Apesar de ser preciso manter o controle, isso não significa esconder suas emoções. Diga o que sente, do contrário, eles apenas ouvirão você chorar por detrás da porta.
:: Também não é preciso fazer tudo sozinho: se as coisas ficarem difíceis, parentes e amigos podem ser convocados, bem como apoio profissional.
:: Finalmente, entenda que o divórcio não é um evento isolado: os pais devem reestabelecer os limites regularmente, em diferentes situações, e checar frequentemente como as crianças estão se sentindo.
- Pode ser uma conversa de cinco minutos, e às vezes fica mais fácil se vocês estiverem fazendo outra coisa, como dirigindo ou passeando com o cachorro - aconselha Sharon Chapman, acrescentando: - As coisas sempre melhoram. As pessoas se adaptam.
Fontes: psicóloga Janet Reibstein e conselheira familiar Sharon Chapman