A engenharia genética já é capaz de selecionar embriões e dar continuidade apenas à gestação de bebês saudáveis. Pesquisas em células-tronco e o estudo de medicamentos inteligentes apontam uma esperança de cura para doenças como o câncer. Vacinas para prevenir o HIV estão em fase final de estudo. Todas essas novidades fazem parte de um conjunto de avanços da ciência que ao longo dos anos vêm propiciando uma vida mais longa ao homem.
Como reflexo dessa revolução médica, nas últimas cinco décadas houve um aumento de 600% no contingente de idosos no Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os homens da época Medieval, por exemplo, eram considerados velhos aos 30 anos. Nos anos 2000, um indivíduo de 80 vai à academia, faz caminhadas, dança e dá um baile em muitos mocinhos. Generosas, as projeções apontam uma expectativa de vida de 85 anos em 2025 e não será nada surpreendente pessoas chegando aos 120 por volta de 2050.
Essa reviravolta na área médica já era premonitória há quase duas décadas. Em outubro de 1991, quando nascia o Caderno Vida já se falava nos frutos que seriam colhidos com o conhecimento aprofundado da genética. A coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Imunodiagnóstico da Faculdade de Farmácia, da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Virgínia Minghelli Schmitt, lembra que os avanços possibilitaram, por exemplo, a geração de clones e transgênicos e potencializaram o uso da terapia com células-tronco, uma área da genética na qual se deposita a esperança de cura de doenças hoje ainda não debeladas pela medicina.
Depois da avalanche de descobertas, a batalha mais ferrenha agora reside na busca pela qualidade de vida. A tendência é de que os cuidados com a saúde caminhem cada vez mais para uma medicina especializada, onde não haverá tratamento para um problema e sim para o seu problema. De acordo com o geriatra Rodolfo Herberto Schneider, o cenário positivo se deve ao maior conhecimento das doenças - resultado de campanhas de conscientização eficientes e diagnósticos mais precisos:
- As pessoas que daqui a cinco décadas terão 80 anos são de uma geração com mais informação pela internet e que já sabem como prevenir doenças.
Maria Cristina Cachapuz Berleze, gestora do serviço de geriatria do Hospital Mãe de Deus, também é otimista. Para a médica, o trabalho deve estar centrado nos hábitos do dia a dia.
- Não é o material genético que auxilia no envelhecimento saudável, mas, sim, o estilo de vida de cada um - orienta Maria Cristina.
A geriatra Carla Schwanke, professora do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS, sugere mudanças urgentes na sociedade:
- É preciso dar início a um levante na escola, na pediatra, na mídia, na ginecologista, no educador físico da academia, no cardiologista. Todos precisam estar afinados no objetivo de um envelhecimento de sucesso.
Já que viveremos mais, o que devemos fazer para sermos idosos saudáveis?
A resposta e as projeções para os próximos anos estão reunidas nas próximas páginas. Veja o que a medicina do futuro tem a oferecer.
LONGEVIDADE
A evolução da medicina
Até anos 50
As pessoas morriam de doenças infectocontagiosas, como pestes e tuberculose.
Anos 50 em diante
Houve uma revolução na área médica com o lançamento de antibióticos e melhora na higiene hospitalar. As pessoas passaram a morrer de doenças crônico-degenerativas.
Anos 70
Foi a vez da tecnologia do DNA recombinante, que possibilitou a síntese de medicamentos. A insulina, por exemplo, que até então era extraída de animais e vendida a preços exorbitantes, passou a ser fabricada a partir do gene humano da insulina, resultando na produção em larga escala a preços mais acessíveis.
Anos 80
Os diagnósticos avançaram em termos de precisão, sobretudo em razão da revolução da informática.
Anos 90
- A genética molecular humana passou a ser usada em diagnósticos e tratamentos.
- Desde 1995, com a chegada de computadores e softwares de imagem mais potentes, exames como a ressonância magnética foram capazes de detalhar ainda mais o corpo humano e colaborar para que os procedimentos cirúrgicos fossem mais eficientes.
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