A violência física e psicológica contra pessoas incapazes de se defender, fenômeno popularmente conhecido como bullying, está na mira da Justiça. Uma cartilha informativa lançada ontem, na capital, com o selo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), visa orientar pais e educadores no combate ao problema, que se tornou uma verdadeira patologia no ambiente escolar.
O livreto de 14 páginas é de autoria da psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, que assina também o livro Bullying: mentes perigosas nas escolas. A primeira edição é parte integrante do projeto Justiça nas Escolas e compõe uma série de ações cujo objetivo é aproximar o Judiciário e instituições de ensino do país na prevenção de problemas que afetam crianças e adolescentes.
O texto é apresentado em forma de perguntas e respostas. Além da descrição do fenômeno e de suas diversas formas de manifestação, são elencadas as consequências e os meios de evitá-lo. Cerca de 46 mil exemplares da cartilha já estão sendo impressos para distribuição massiva em escolas, fóruns, tribunais de Justiça e outros locais de grande movimentação de pessoas. Ela também se encontra disponível em ambiente eletrônico, no site do CNJ (www.cnj.jus.br ).
- Estamos na Semana da Justiça nas Escolas, que é voltada a todos os atores do sistema de justiça e de educação, no sentido de trazer questões não só relacionadas ao bullying como ao combate às drogas, evasão escolar, afim de debatê-las e informar a sociedade - explicou o juiz auxiliar da Presidência do CNJ, Daniel Issler, na ocasião do lançamento da cartilha. - Um tema de importante discussão é a Justiça Restaurativa, que é uma das alternativas para tratar desses conflitos. Esse processo é diferente de uma solução meramente punitiva, restritiva do Estado - completa.
Posicionamento
Issler acredita que a visão da sociedade esteja mudando com relação ao problema.
- O bullying não pode ser tolerado. Eu entendo que a situação de um aluno ser ridicularizado por outro não é nova - sempre aconteceu, sempre vivenciamos ou tivemos conhecimento. Acontece que esse tipo de comportamento não está mais sendo aceito pelas pessoas. O nome propriamente dito veio para qualificar, identificar esse tipo de conduta e nos permite falar sobre ela, além de criar maneiras de lidar com essa questão, que é grave - afirmou. - As consequências são muito fortes, entre elas, depressão e suicídio. Tem também a questão do prejuízo no rendimento escolar e problemas de violência.
O lançamento da cartilha ocorreu durante o seminário de lançamento do projeto Justiça na Escola. Na ocasião, foram realizadas palestras sobre diversos temas relacionados ao bullying. A escritora Ana Beatriz destacou o fato de o fenômeno não ser exclusivo ao ambiente escolar. Segundo ela, trata-se de uma questão de saúde pública.
- Quando estamos falando no assunto, estamos defendendo uma sociedade menos violenta, porque esse é um tipo de violência. Mas, de certa forma, estamos restringindo-a ao território escolar. De todo modo, o bullying tem algumas características: a agressão é repetitiva, intencional - ou seja, não é pra brincar, é pra maltratar. A vítima tem que estar, sempre, em uma posição desproporcional de força: normalmente é pessoa tímida, reservada. É importante observar ainda a relação com a evasão escolar. Apesar de não haver uma estatística fixa, estudiosos vêm analisando os casos concretos que apontam para uma série de estados pscicosomáticos ligado à estada ou à ida para a escola - completou.
Há diferentes tipos de agressões que caracterizam o bullying. Elas podem ser verbais, físicas, psicológicas e morais, sexuais e virtuais ou ciyerbullying (realizadas por meio de ferramentas tecnológicas: celular, filmadoras, internet).
- No caso da violência física, parte mais de pessoas do sexo masculino. Das meninas, tem origem nas intrigas e nas fofocas. Meninos homossexuais, desde muito cedo, sofrem assédio e até violência sexual nas escolas. É muito mais comum do que a gente imagina - atenta Ana Beatriz.