Nas últimas décadas, elas foram estimuladas a denunciar a violência e abandonaram a postura de silêncio. Mas hoje, mesmo com todas as conquistas, De Ângela Diniz, morta em 1976 com um tiro pelo ex-companheiro, ao possível assassinato de Eliza Samudio, do qual o maior suspeito é o ex-amante Bruno Fernandes de Souza, que jogava no Flamengo, muita coisa mudou. As mulheres saíram das amarras machistas, conquistaram bons espaços no mundo profissional, ganharam autonomia sobre o próprio corpo e deixaram de silenciar as agressões sofridas no lar.
Com quatro anos de existência, a Lei Maria da Penha contribuiu para esse comportamento mais ativo. Mas vencer as resistências referentes ao novo papel na sociedade do chamado sexo frágil ainda é um desafio. Nem os agentes policiais que geralmente são os primeiros a terem contato com as vítimas da violência doméstica escapam da visão preconceituosa.
Essa foi a conclusão de uma pesquisa apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo da autora, a assistente social Marilda de Oliveira Lemos, era conhecer as representações sociais de gênero entre agentes policiais de delegacias de defesa da mulher e de distritos policiais.
Com base nas entrevistas com seis delegados e seis escrivães, todos de serviços localizados em Santo André (SP), Marilda constatou uma mentalidade extremamente machista.
- Alguns, não apenas nas entrelinhas, mas explicitamente, sustentam a subordinação da mulher ao homem. Essa visão, transformada em prática profissional, poderá fazer a diferença no momento de interpretar e aplicar a Lei Maria da Penha - diz Marilda.
Segundo a pesquisadora, um tom desqualificador da ação das mulheres e um tom conivente com os agressores foram recorrentes nas entrevistas (leia trechos abaixo). Para Ana Cláudia Pereira, consultora do Centro de Estudos Feministas e Assessoria (Cfemea), o preconceito apontado pelo estudo acadêmico é sentido na prática.
- Recebemos mulheres que nos procuram pedindo ajuda porque não conseguiram fazer a denúncia. É clara essa ideia entre alguns agentes da polícia e operadores do direito de que a mulher ou provocou a agressão ou a agressão não foi tão séria assim. Muitos, aliás, ressentem-se do trabalho a mais depois da Lei Maria da Penha - destaca Ana Cláudia.
O tema da violência doméstica foi ressaltado na última semana devido aos 10 anos do assassinato de Sandra Gomide pelo jornalista Pimenta Neves, que não aceitava o fim da relação.
Vítimas da violência
Antes e depois do caso Pimenta Neves, o assassinato de mulheres chocou o país algumas vezes. Veja os crimes de maior repercussão:
Ângela Diniz
Raul Fernandes do Amaral Street, conhecido por Doca Street, matou a namorada Ângela Diniz, apelidada de Pantera de Minas, em 1976, com um tiro, por não aceitar o fim do relacionamento. Cumpriu pena por homicídio.
Eliana de Gramond
Vinte dias após o desquite formalizado, o cantor Lindomar Castilho alvejou a ex, também cantora, em um bar em São Paulo. O crime ocorreu em 1981 e Castilho pegou pena de quase 13 anos, boa parte cumprida em regime aberto.
Eloá Pimentel
Depois de manter Eloá Cristina Pimentel refém por mais de 100 horas, porque a adolescente de 15 anos terminou o namoro, Lindemberg Alves baleou a garota. O rapaz está preso desde o assassinato, em 2008.
O julgamento não tem data marcada.
Dado depõe até sexta-feira
O ator e cantor Dado Dolabella, acusado pela ex-mulher Viviane Sarahyba de agressão, será intimado pela Justiça para prestar depoimento nos próximos dias. A juíza Maria Cristina Brito Lima, da 1ª Vara da Família, na Barra, Rio de Janeiro, expediu a intimação e, agora, o artista terá cinco dias para se explicar às autoridades. Viviane entregou à juíza inúmeros documentos que comprovariam as agressões de Dado.
Notícia
Violência contra a mulher: elas abandonaram o silêncio, mas seguem sendo vítimas
Mulheres enfrentam a visão machista e preconceituosa de quem deveria prestar todo o apoio
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