Neste 16 de agosto, um dos maiores ícones da cultura pop chega aos 60 anos. Madonna Louise Ciccone adentra na terceira idade ainda provocadora e como a artista que se tornou referência a muitas cantoras. Nascida em uma família norte-americana de ascendência italiana e muito religiosa, a artista que teve a infância marcada pela perda da mãe foi uma transgressora que não mediu esforços até alcançar o estrelato.
Cresceu nos subúrbios de Detroit, mas sabia que seu lugar não era ali. Com personalidade forte, destacava-se dos demais irmãos e amigos. Foi aluna exemplar e líder de torcida. Ingressou na Universidade de Michigan para cursar dança por meio de uma bolsa de estudos, mas abandonou a graduação para seguir o sonho de ser dançarina. No final de 1977 mudou-se para Nova York. Com pouco dinheiro, trabalhou como garçonete e participou de algumas bandas. Mas Madonna viu sua vida mudar ao encontrar com o DJ e produtor Mark Kamins, que a apresentou ao fundador da gravadora Sire Records, Seymour Stein.
Depois que lançou seu primeiro single Everybody, em outubro de 1982, nunca mais parou. Vieram 13 álbuns de estúdios, 300 milhões de discos vendidos no mundo inteiro, uma extensa lista de polêmicas, romances e quebras de tabus. Teve 12 músicas alcançando o topo da parada americana - um marco entre as artistas mulheres.
Jogou a seu favor ter surgido junto com a MTV, o canal de televisão americano que mudou conceitos no mundo da música. Inclusive, sua apresentação na primeira edição do Video Music Awards, em 1984, marcou história, pela performance provocativa de Like a Virgin. A primeira das muitas polêmicas que se seguiriam depois. Soube se reinventar sempre que preciso. Arriscou-se no cinema e na literatura. Provocou com declarações sobre sexualidade feminina. Soube usar da moda para virar um ícone.
A controversa e provocativa escritora Camille Paglia escreveu em um artigo para o New York Times em 1990 que "Madonna era o futuro do feminismo", e foi uma defensora de primeira hora do que a artista representava como um exemplo liberador para mulheres confortáveis com a própria sexualidade. Em anos posteriores, contudo, as guinadas na carreira da atriz a afastaram de Camille. Em 2016, Madonna declarou que Camille Paglia a havia advertido no início da carreira por sexualizar sua imagem. Camille veio a público declarar que passou os anos 1990 dizendo exatamente o contrário
Agora, Madonna dá novo significado às suas seis décadas. Ela se relaciona abertamente com homens três décadas mais novos, mantém a aparência jovem e em sua última turnê apresentou um show provocador que simulava atos sexuais.
Freya Jarman, uma estudiosa da música na Universidade de Liverpool que coeditou um livro sobre Madonna, disse que a rainha pop já deixou um legado e influenciou muitas artistas mais jovens como Lady Gaga, mas agora demonstra ter um novo tipo de relevância.
- Como uma cantora popular, que envelhece e ainda está tão presente entre o público, é absolutamente relevante. Madonna se destaca como sempre fez, sempre esteve interessada em provocar - afirma Jarman.
Rainha do pop
Madonna já apresentou diversas facetas musicais, mas algo é inegável: esteve sempre à frente de seu tempo. Foi ela quem começou com o reinado das divas pop. Foi uma jovem rebelde nos discos Like a Virgin (1984) e True Blue (1986), teve uma fase mística em Like a Prayer (1989), adotou a personalidade femme fatale em Erotica (1992) e transitou pela espiritualidade em Ray of Light (1998).
Já século 21, mergulhou na música eletrônica em Music (2000), brigou com o então presidente norte-americano Geroge W. Bush na faixa-título do álbum conceitual American Life (2003), voltou às pistas de dança com Confessions on a Dance Floor (2005) e re-adentrou os inferninhos modernos com MDNA (2012). Em seu último álbum de estúdio, Rebel Heart (2015), mesclou rebeldia e coração para apresentar seu trabalho mais eclético. Agora trabalha no seu 14º álbum, que devera ser lançado ainda neste ano.
Ícone político e feminista
Desde sempre, o comportamento transgressor de Madonna foi visto como político e feminista. Desde sua contestação à Igreja, seu posicionamento de falar abertamente sobre sexualidade, até as turnês polêmicas, ela sempre manifestou suas opiniões. Mas foi ma entrega do prêmio Mulher do Ano da revista musical Billboard, em 2016, que Madonna fez seu discurso mais engajado ao afirmar que a sociedade permitia às mulheres serem "lindas, dóceis e sensuais", mas não que expressassem suas opiniões ou fantasias sexuais.
- E, finalmente, não envelheça. Porque envelhecer é um pecado. Será criticada, será desprezada e, definitivamente, não tocarão sua música no rádio - criticou Madonna.
Madonna também persiste em seus compromissos políticos. No ano passado, fez um discurso duro na Marcha das Mulheres, um dia depois da posse do presidente Donald Trump, e afirmou que as mulheres não aceitarão "esta nova era da tirania".
Fashionista
Desde que surgiu para o mundo pop, Madonna tornou-se também um ícone fashion e soube aproveitar as oportunidades. Com a grife Dolce & Gabbana exibiu looks sexys na Girlie Tour, de 1993.
Na turnê de Sticky & Sweet, de 2008, ostentou looks fetichistas criados pela marca Givenchy.
Mas foi a parceria com o estilista francês Jean Paul Gaultier, no início dos anos 1990, que apresentou uma de suas marcas: o sutiã cone, um dos símbolos de sua essência criativa.
Maternidade e projetos sociais
Desde 2006, Madonna comanda o projeto Raising Malawi, no país africano Malauí, que oferece abrigo, educação e saúde para crianças órfãs. A relação com o país levou a cantora a adotar quatro crianças por lá, que se somaram aos seus filhos biológicos, Lourdes Maria (21 anos) e Rocco (18). O primeiro a ser adotado foi David Banda, em 2006, seguido por Mercy James (em 2009) e as gêmeas Stelle e Estere (em 2017).
No ano passado, a artista mudou-se para Lisboa, onde um de seus filhos frequenta uma escola juvenil de futebol, incentivou que seus fãs, em seu 60º aniversário, façam doações à sua obra de caridade para crianças no Malauí.
Romances
Assim como sua carreira artística, Madonna ostenta uma lista de crushes e namorados bem eclética. Do artista plástico Jean Michel Basquiat (1982), aos atores Sean Pean (com quem foi casada de 1985 a 1989) e Warren Beatty (1989 a 1991), passandos pelos músicos Lenny Kravitz, Vanila Ice, Tupac Shakur, os atletas Alex Rodriguez e Denis Rodman e o cineasta Guy Ritchie (com quem foi casada de 1988 a 2008). Até um brasileiro está na lista: o DJ Jesus Luz, com quem ela namorou por dois anos.
Envelhecimento
A preferência por homens mais novos nos últimos anos é tida como um comportamento que transgride com os padrões estigmatizados com que a sociedade vê as mulheres mais velhas.
- Como feminista, tenho apenas coisas boas a dizer de Madonna. Se essa é a sua preferência sexual, está realizando uma fantasia que muitas mulheres não podem ou não querem realizar. Essa geração, que sempre buscou dar uma nova definição para o sexo e o gênero, tenta dizer: "Não estamos prontas para desaparecer só porque estamos mais velhas" - comentou a socióloga da Universidade de Washington, Pepper Schwartz, especialista em envelhecimento e sexualidade.
Madonna em números
- 13 álbuns
- 9 turnês mundiais
- 26 projetos no cinema como atriz, produtora, diretora e roteirista
- 300 milhões de álbuns vendidos (cópias físicas)
- R$ 640 milhões foi o faturamento de sua última turnê, Rebel Heart (2015)
- 9 prêmios Grammy
- 2 Globo de Ouro (atriz por Evita e canção original por Masterpiece do filme W.E. (2012)