Há 20 anos, o Brasil entrava em luto com a perda de um dos seus mais conhecidos cantores. Leandro, famoso pela dupla sertaneja com o irmão Leonardo, morreu vítima de um câncer, aos 36 anos, no Hospital São Luiz, em São Paulo.
O anúncio da morte foi divulgado por volta das 2h de 23 de junho de 2018, e o corpo, embalsamado, deixou o hospital no início da manhã, para um percurso de sete quilômetros até a Assembleia Legislativa de São Paulo, onde foi velado. No hall da Assembleia, o caixão foi aberto por determinação da própria família. A bandeira brasileira, da qual Leandro se orgulhava, e um chapéu de vaqueiro foram os últimos companheiros do cantor.
Comoção em velório
Desde as 6h, os fãs começaram a se dirigir ao velório, mas só puderam se aproximar por volta das 7h30min. Cerca de 35 mil pessoas passaram pela Assembléia Legislativa. Uma fila, coordenada por policiais militares, foi a única possibilidade de os admiradores lançarem o último olhar sobre o ídolo.
Pouco depois das 15h30min, o acesso ao saguão da Assembléia foi fechado, e um cortejo começou em direção ao aeroporto de Congonhas, de onde o corpo foi levado para Goiânia. As principais avenidas de São Paulo quase pararam para se despedir do músico. O movimento abafou a voz dos narradores esportivos, que já vibravam com a entrada do time de Zagallo na Copa do Mundo da França.
O irmão Leonardo recebeu a notícia da morte pouco depois da família. O músico havia acabado de fazer um show em Caldas do Cipó, no interior da Bahia. A chegada de Leonardo ao hall da Assembleia paulista, por volta das 10h, foi um momento de comoção familiar. Os pais e os seis irmãos o cercaram e se uniram em oração. Ficaram ali por meia hora e cantaram baixinho a música Segura na Mão de Deus.
De Luiz José a Leandro
Registrado como Luiz José da Costa, Leandro nasceu em Goianápolis, interior de Goiânia, onde chegou a trabalhar com os irmãos no cultivo de tomates. O músico assumiu o nome artístico no início dos anos 1980, por conta da sonoridade dos nomes Leandro e Leonardo. A fama nacional se consolidou nos anos 1990, com o boom da música sertaneja no país. Em entrevista a Zero Hora, em 1992, Leandro reconheceu:
– Tivemos sorte de pegar um momento bom.
Leandro e Leonardo nunca compuseram, mas escolhiam muito bem suas canções. Entre Tapas e Beijos e Pense em mim, foram dois grandes sucessos que abriram caminhos para a dupla.
Leandro foi quem começou na música, como crooner do conjunto de baile Os Dominantes, entre 1976 e 1978, no interior de Goiás. O repertório era extenso: ia do internacional ao samba, passando, claro, pelo sertanejo. O gênero foi se definido nos anos 1980, quando os irmãos passaram a atuar juntos em choperias, bares e bailões. Moraram em quartos de pensão, dividindo beliches com um tio e um primo. Foram dois discos até a explosão de Entre Tapas e Beijos, em 1989.
Os shows saíram dos bailões para palcos maiores, como o Canecão, no Rio. E os quatro salários mínimos que ganhavam no início da carreira pularam para R$ 315 mil mensais, conforme levantamento da revista Veja, em junho de 1996, que indicou aqueles que, no meio artístico, mais faturavam no Brasil. Leandro & Leonardo ocupavam a oitava colocação.
A comoção pela morte do artista abalou também personalidades conhecidas e autoridades. Em entrevista, o então presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou:
– O Brasil todo chora a morte do Leandro, que simboliza um Brasil todo nosso, este Brasil do interior, do interior de Goiás.