GaúchaZH republica texto da ex-colunista de Zero Hora Milena Fischer, originalmente postado em 13 de fevereiro 2013, que mostrava um lado pouco conhecido de Eva Sopher: a intimidade da guardiã do Theatro São Pedro. Confira abaixo:
Eva Sopher está em casa. Não a sua casa profissional – e também do coração –, o Theatro São Pedro (TSP), mas o lugar para onde vai quando a jornada diária chega ao fim. A tarde de sábado está ensolarada, e a luz entra pelas grandes janelas do apartamento de cobertura para onde se mudou pouco tempo depois da morte do marido, Wolfgang Klaus Sopher, em 1987. O silêncio é reconfortante, assim como o visual da rua arborizada.
Dona Eva se dedica à prazerosa tarefa de preparar o almoço do domingo, dia em que faz questão de reunir a família em sua casa:
– Minha avó fazia isso, e quero que meus netos e bisnetos tenham esse “encosto” familiar.
Em junho, Eva Sopher fará 90 anos, e o TSP, 155. Mas as novidades começam antes, no dia 27 de março, data em que algumas salas do Multipalco serão entregues. Prestes a completar nove décadas de vida, a presidente da Fundação Theatro São Pedro diminuiu o ritmo: passa 36 horas por semana no trabalho.
– E as demais pensando nele – diz.
De fato, o teatro está por todos os lados: no quadro antigo (abaixo), no folder afixado na porta da geladeira, nos livros. Em breve, a dedicação à cultura renderá a dona Eva mais uma homenagem: Beto Herrmann está escrevendo um musical sobre ela – que já ouviu algumas canções. Com um sorriso suave, fica tímida ao falar das tantas honrarias que já recebeu ao longo da vida:
– O mais importante é a obra, não a gente.
Receitas
A salada de cenoura com iogurte é garantia de sorrisos no domingo:
– Todos adoram – diz Eva Sopher, que também gosta de fazer e saborear molhos.
Outra receita aprovada por netos e bisnetos é o abacate batido com iogurte e açúcar mascavo, na sobremesa:
– Não uso creme de leite ou leite condensado, são essas coisas que engordam.
Prática, dona Eva congela o que sobra do almoço de domingo para comer durante a semana. E ensina:
– Cozinhar refresca e alimenta a mente.
Família
Idealmente, os almoços reúnem as filhas, Renata Rubim e Ruth Pereyron, os quatro netos e os seis bisnetos.
Mas é difícil estarem todos na cidade. Quando chegam, trazem os cachorros, vão para a piscina e batem papo:
– Minha família foi separada pelo nazismo. Quero que eles tenham esse conforto familiar.
Rotina
O trânsito afetou a rotina de Eva Sopher no Theatro São Pedro. Em dia de espetáculo, ela prefere ir mais tarde e ficar até a noite:
– Gosto de receber as pessoas, é um traço marcante estar lá para dar a entrada no público. Então, vou mais tarde, porque o trânsito está terrível. Como a cidade fica mais civilizada em janeiro e fevereiro, não é? – atesta quem viu Porto Alegre se transformar em meio século como cidadã honorária.
– Mas a senhora ainda dirige? – pergunto.
– Não preciso dirigir, o carro já vai sozinho – sorri dona Eva Sopher.