Considerado um dos maiores bibliófilos do Brasil, Waldemar Torres morreu na noite de terça-feira, no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde tratava complicações de saúde havia duas semanas. Segundo a família, Waldemar havia sido vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e, posteriormente, um câncer de próstata acabou se agravando.
Referência nacional em bibliofilia, "sabia falar sobre escritores com um amor contagiante", como ele próprio disse, em entrevista concedida a Zero Hora, em 2000.
A cerimônia de despedida e o sepultamento foram realizados em Porto Alegre, no Cemitério São Miguel e Almas, ontem, dia em que Waldemar completaria 73 anos.
Paulista, o colecionador se transferiu para a Capital gaúcha no final dos anos 1990, junto de sua biblioteca, que chegou a Porto Alegre por vias aérea e terrestre. Os livros mais valiosos vieram em pesadas malas de mão. Entre eles, Opus 10, de Manuel Bandeira, que teve edição de apenas 20 exemplares, assim como outros títulos autografados do amigo João Cabral. Ele cuidava destas e de outras milhares de obras com o mesmo zelo de quem protege uma joia.
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Waldemar transformou uma casa no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, no Espaço Engenho e Arte. Após a viagem, decidiu reorganizar o seu acervo e compartilhá-lo com os novos vizinhos. Na inauguração do recinto, lançou Conversa de Livraria, um conjunto de textos inéditos de Carlos Drummond de Andrade escritos sob pseudônimos nos anos 1940, garimpados em jornais do Rio de Janeiro.
O bibliófilo, que dedicou décadas a pesquisar e colecionar obras de autores do modernismo brasileiro, contabilizava em seu acervo um vasto volume de informações e trabalhos de figuras como Manuel Bandeira, Mario de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Mario Quintana, Erico Verissimo, Rubem Braga, Jorge Amado, Clarice Lispector e outras centenas de nomes. Waldemar era responsável ainda pela maior filmografia da literatura brasileira do século 20.
Formado em Medicina Veterinária em 1966, foi membro do conselho federal da categoria por 18 anos. Na década de 1980, a bibliofilia começou a tomar 90% do seu tempo.
Um dos desejos do colecionador de livros era conseguir formar novos bibliófilos. Mais do que lazer, para ele, a atividade era um caminho para a cultura. Waldemar dizia que isso mudaria a vida das pessoas.
Ele deixa a mulher, Maria Helena, os filhos Luiz Sergio, Luiz Flavio e Tatiana, e os netos Caroline Torres e Felipe Torres.