Num Brasil que já teve a Rainha Hortência no basquete, que tem a Rainha Marta no futebol e que viu Rebeca Andrade desfilar como Rainha Olímpica com suas seis medalhas, não é preciso coroar mais uma, pelo menos por enquanto. Há, porém, nas quadras de vôlei, uma candidata a mais uma soberania esportiva. Gabi é tudo na equipe comandada por José Roberto Guimarães, dentro e fora das quadras.
Gabriela Guimarães, a Gabizinha, ou "Filha do Deus do Vôlei", como também é chamada, tem 30 anos e está no auge da carreira. A mineira é o xodó de todas as torcidas nestes Jogos Olímpicos.
Na quadra, ataca e pontua como nenhuma outra na seleção brasileira. Na hora de sacar, é extremamente competente, valendo o mesmo na defesa e até se obrigada a levantar para o ataque.
Seus voos partidos de trás da linha dos três metros causam pânico nas adversárias, e as jogadas pelas pontas variam entre cravadas, diagonais ou largadas mágicas. A camisa 10 e capitã do time é a líder que pode levar a equipe ao ouro que não veio em Tóquio.
Música, galera e presentes para Gabizinha
O carisma da jogadora Gabi é fantástico. Ela sempre é das últimas a deixar a quadra porque se divide entre atender a imprensa e os fãs.
Nas entrevistas, não apressa a conversa, detalha tudo e se assume como protagonista, tomando para si também as responsabilidades.
Por trás de uma expressão frágil com traços leves, há alguém que se transfigura com caretas monstruosas falando com energia com as companheiras.
Na atenção com o público, dá e recebe carinho, tanto que no jogo contra a República Dominicana, saiu com uma bola, presente de um torcedor.
— Ele disse que esta bola dará sorte. Eu peguei e vou guardar — dizia a ponteira mostrando o presente que se juntava a um pequeno boneco.
Gabi também é motivo de música nas quadras. A cada acerto em ataque, o DJ Stari, austríaco e tradicional animador dos jogos de vôlei pelo mundo, solta um antigo sucesso de Dorival Caymmi na voz de Gal Costa:
—...Eu nasci assim/ eu cresci assim/ e sou mesmo assim/ vou ser sempre assim.../ Gabriela, sempre Gabriela...
Isaquias não contava com Rebeca Andrade
Isaquias Queiroz mudou o discurso. Toda a badalação criada com Rebeca Andrade e o novo recorde de medalhas entre os atletas brasileiros na história já tinham sido antecipados há três anos no Japão com o próprio canoísta.
Foi Isaquias quem, antes da Olimpíada de Tóquio, prometeu buscar a marca absoluta de cinco medalhas, que era de Robert Scheidt e Torben Grael. Agora, mesmo podendo encostar nas seis medalhas de Rebeca, o ídolo da canoagem voltou atrás e está bem comedido, evitando novas promessas.
Zé Roberto é muito família
Transcorriam as entrevistas após a vitória do Brasil sobre a República Dominicana no vôlei masculino e crianças invadiram a área reservada a atletas e comissão técnica e interromperam o trabalho da imprensa. Era um casal de netos do treinador José Roberto Guimarães que passou por todos os fiscais e foi em direção ao avô para calorosos abraços.
Claro que Zé abandonou os jornalistas. Hoje, já são cinco os netos do treinador, que em 2016, na Olimpíada do Rio de Janeiro, teve uma imagem imortalizada quando Felipe, o mais velho, então com seis anos, entrou na quadra chorando com a bandeira do Brasil após a eliminação diante da China nas quartas de final.
A força de quatro décadas do vôlei brasileiro
A revolução do vôlei brasileiro ocorre no início dos anos 1980. O primeiro resultado significativo é o vice-campeonato mundial em 1982 com o time masculino. De lá para cá, uma história olímpica surge com a chamada "geração de prata" dos homens e depois passa a ter as mulheres aparecendo em pódios a partir de 1996.
O número importante é que na quadra, desde os Jogos de Los Angeles em 1984, pelo menos um time brasileiro disputa medalha no voleibol de quadra. Nem sempre a medalha veio, como em 1988 em Seul, mas também houve edições com ouro e prata, como em Pequim e Londres.
- Medalha de Ouro: mulheres do Brasil — Já eram maioria na delegação, mas o desequilíbrio no número de pódios e na qualidade dos desempenhos é acachapante e está deixando os marmanjos envergonhados. Tudo é Brasil, mas os homens poderiam colaborar mais.
- Medalha de lata: acréscimos nos jogos de futebol — Depois da correta medida da Fifa de orientar os árbitros a compensarem o tempo perdido nos jogos, a Olimpíada está inaugurando a era dos "super acréscimos" com tempos exagerados e muitas vezes injustificados dados pelos árbitros. Tomara que não seja tendência daqui para a frente.