Falar em "melhor da história" ou "maior de todos" é algo que sempre gera e gerará discussões. No futebol, então, nem se fala, uma vez que as divergências são quase sempre pautadas pela paixão. Há, porém, alguns elementos que atualmente nos permitem examinar números e desempenho para concluir que Luiz Felipe Scolari é o maior treinador do futebol brasileiro em todos os tempos.
Se é verdade que a maior derrota dos mais de 100 anos da nossa Seleção passa diretamente por Felipão, há de se considerar que o vexame contra a Alemanha refere-se a um jogo, o mais infeliz e irrecuperável da carreira do treinador. Mas, definitivamente, uma exceção – como foi a passagem frustrada pelo futebol inglês. O hoje líder e apontado como futuro campeão brasileiro após seis rodadas, talvez por birra, não desistiu de trabalhar após o fracasso do Mineirão. Teve um trabalho razoável no Grêmio, mas uma passagem extremamente vitoriosa no futebol chinês antes de voltar para o Palmeiras, onde conquistou o Brasileirão de 2018. E, contrariando a fama de se dar bem só em disputas de mata-mata, mostrou-se competente nos pontos corridos.
Na concorrência com o magnífico Telê Santana, Scolari conta com algo insuperável: o pentacampeonato mundial conquistado em 2002. Em Copas do Mundo, Telê sequer chegou às semifinais, em 1982 e 1986. Felipão sempre foi semifinalista nas Copas que disputou, inclusive com Portugal, em 2006.
Os portugueses o idolatram, mesmo que na Eurocopa disputada em casa, a seleção tenha perdido o título para a pouco representativa Grécia. Se em clubes Telê brilhou, e muito, no São Paulo foi bicampeão do mundo, Luiz Felipe bateu na trave duas vezes com Grêmio e Palmeiras. Mas tem igualmente duas Libertadores conquistadas. A contagem nos clubes, entretanto, tem outros pontos a favor do gaúcho. O início da carreira tem a improvável Copa do Brasil vencida pelo Criciúma em 1991 e a formação de um surpreendente e vitorioso Grêmio a partir de 1994, criando um perfil de jogo que firmou uma identidade para clube e técnico. É verdade que o "jeito Felipão" é menos plástico e espetacular do que aquilo apresentado pelos times de Telê no passado. São escolas diferentes, mas ambas competitivas. Por isso, o que define as comparações são os resultados.
Não fosse o desempenho em clubes e fora do país, Luiz Felipe teria outro concorrente forte numa comparação entre os melhores treinadores brasileiros em Zagallo, o maior entre os técnicos da Seleção. O todo de Felipão, porém, é mais significativo do que o do carismático "velho lobo". Entre os dois, aliás, uma diferença que chama a atenção é a do temperamento.
Mas o caso não é simpatia, e Felipão mostra que ainda tem conquistas a buscar e ainda pode enriquecer um currículo invejável, o melhor entre os técnicos brasileiros.