Vem aí uma mudança inevitável: na hora de construir ou comprar imóveis, a resistência a chuva forte e ventanias passará a ser um fator cada vez mais fundamental de decisão. O Brasil bateu recorde de desastres naturais em 2023. A recente tempestade que passou pelo Rio Grande do Sul foi um deles. Ao que tudo indica, outros virão.
Como sempre, as pessoas mais pobres, as que menos contribuem para a destruição do planeta e para as mudanças climáticas, são as que pagam a maior parte da conta. É humanamente injusto e economicamente equivocado, entre outros motivos, pela pressão, cada vez maior, dos efeitos desses eventos nos caixas das famílias de menor renda, das prefeituras e dos governos. Dignidade econômica é o caminho inevitável do capitalismo. Quanto mais gente com educação, saúde e poder de consumo, em uma nova realidade sustentável, melhor para todos.
A partir de agora, porém, não serão apenas os casebres de madeira que enfrentarão as consequências de um modelo de sociedade que precisa evoluir, em nome da liberdade e do desenvolvimento.
O próprio conceito de “área de risco” será revisto, ampliando as suas fronteiras, ou mesmo acabando com elas
Boa parte dos amigos que moram em coberturas teve prejuízos na mais recente tempestade. Destelhamentos, inundações, vidros quebrados. Alguns já pensam em se mudar para andares mais baixos. As coberturas são as primeiras a serem repensadas, das esquadrias ao volume de escoamento de água nos espaços abertos.
Um amigo que veio do Interior para Porto Alegre me revelou um dos principais critérios usados para comprar o imóvel onde mora: fica perto de um hospital. Logo pensei que ele tinha alguma doença, ou que algum familiar tivesse. Nada disso. Ele leu em algum lugar que as regiões onde existem unidades de saúde são as primeiras atendidas quando falta luz e, por isso, são também as primeiras a terem a energia restabelecida.
O próprio conceito de “área de risco” será revisto, ampliando as suas fronteiras, ou mesmo acabando com elas.
Penso nos esforços que as construtoras, os corretores e as agências de marketing terão de fazer para incluir nas suas peças de venda atributos que deixem os compradores seguros.
Hoje, tenho certeza, quem procura uma casa ou apartamento presta atenção nos acabamentos, na orientação solar e na vizinhança. Mas também olha com atenção redobrada para tudo o que tem relação com resistência a vento e chuva.
É o novo normal. Temo que nos adaptemos.