Estamos vivendo uma guerra mundial. Ela é diferente das anteriores, porque se divide em duas frentes interligadas. A primeira é a dos combates entre Hamas e Israel, no Oriente Médio.
Mas existe um outro e gigantesco campo de batalha: as redes sociais. Antes, a guerra era majoritariamente territorial, com derivações secundárias: disputas de narrativas centralizadas nos grandes veículos de comunicação. Hoje, cada sofá ou poltrona diante de um celular ou de um computador é um posto de combate. A possibilidade ilimitada de postagens e o alcance potencial delas é uma arma com munição infinita.
Não somos mais observadores angustiados e impotentes das batalhas. Fazemos parte delas, direcionando imagens e frases uns contra os outros, ou para defender posições. Há, neste momento, combatentes em ações na Sibéria, em Caxias do Sul, na Bolívia, no Congo, em Nova York, em Istambul, em Pequim e em Port Moresby, capital da Papua-Nova Guiné.
O botão que dispara uma nova publicação nos transforma em soldados, em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora. Governos e instituições medem os humores e os danos do ambiente digital, tal qual monitoram avanços e recuos do front concreto. Existem ferramentas acessíveis e simples que transformam os bilhões de dados que transitam pela internet em informações simples e consolidadas. Sabe-se quem está ganhando a guerra das redes sociais e, a partir daí, define-se estratégias com impacto no terreno das operações militares.
O mais paradoxal é que, na segurança dos nossos lares, nos sentimos ao mesmo tempo distantes e próximos. Distantes quando levamos a nossa vida corriqueira. Próximos quando algum algoritmo nos alimenta com inputs da guerra, nos instigando, mesmo distantes, a disparar mísseis em direção a um território que, muitas vezes, sequer conhecemos e que, frequentemente, não compreendemos.
Quando entra no Brasil, a guerra do Oriente Médio passa a ser analisada sob o prisma da radicalização Lula-Bolsonaro.
A radicalização é burra.
Então, se um é defensor de Israel, mesmo que seja pelas razões erradas, o outro se posiciona automaticamente do lado oposto.
Cuidado. O que está em jogo não é Lula ou Bolsonaro, esquerda ou direita, liberalismo ou comunismo.
O que está em jogo são três palavras que definem o modelo de sociedade no qual queremos viver: liberdade, respeito e democracia. Dito isso, aperte o botão. Cuidado, apenas, para não ser atingido, ali adiante, pelo seu próprio disparo.