A entrada de Jair Bolsonaro no PL consagra o desgaste de um dos pilares da tradicional democracia representativa. Durante meses, o presidente analisou possibilidades de ingresso em várias siglas. Bolsonaro Ficou sem partido praticamente dois anos. Jamais, publicamente, enquanto definia seu destino, falou em programa ou ideias. As variáveis que pesaram na decisão foram duas: apoio no Congresso e base para a eleição de 2022.
O fenômeno aqui analisado é bem maior do que Bolsonaro ou de que qualquer político. Passa, em grande parte, pela possibilidade de auto representação, ou da sensação dela, proporcionada pelas redes sociais. O mantra totalitário “o Estado sou eu”, atribuído a Luís XIV, o Rei Sol, foi substituído, graças à tecnologia, pela neoverdade “o partido sou eu”. No Insta, no Face, no Tik Tok e no Twitter, sou aplaudido pelos correligionários, a bolha, e movido pela busca de filiados, hoje chamados de seguidores.
De fato, os partidos hoje viraram entidades jurídicas que fazem apenas a intermediação para receber dinheiro público e para inscrever candidatos nas eleições. Não são iguais em tudo, mas estão cada vez mais parecidos.
Bolsonaro poderia ter ingressado em pelo menos 10 siglas, sem que isso fizesse qualquer diferença na percepção do eleitor. Vale lembrar também que PL significa Partido Liberal. O anúncio da adesão ocorreu durante a aprovação do Auxílio Brasil, um programa que, nos governos do PT, com outro nome, era chamado de comunista, porque distribui renda de forma direta, populista e usando dinheiro público. Nada como uma medida absolutamente não liberal como cartão de entrada no Partido Liberal. De fato, ninguém se importa. Sejamos otimistas: talvez esse não seja o problema, mas o começo da solução.