Imaginem uma facção criminosa assumindo o poder em Porto Alegre a anunciando anistia para a polícia. É exatamente isso o que está acontecendo no Afeganistão. Não se deixe enganar. Teocracias radicais, de qualquer religião, não combinam com democracia. Há uma incompatibilidade insuperável entre a imposição de um modelo único baseado em supostas leis divinas e a liberdade de escolha do cidadão, a inclusive a de não crer em Deus.
O mais estanho é que muitos incautos, a maioria bem intencionada, embarca nessa ladainha de moderação Taliban. Até aplaudem o anúncio de que as mulheres podem voltar ao trabalho em Cabul, como esse isso não fosse um direito básico e inquestionável.
Durante muito tempo, a tese do relativismo cultural andou na moda, mas sem os devidos cuidados na defesa de que é preciso compreender o funcionamento de uma sociedade a partir de seus próprios valores e regras, para só então jugar. Bobagem. Não há justificativa para perseguição às mulheres, aos gays, aos ateus, aos que não usam barbas e que não querem seguir essa ou aquela religião. Há valores civilizatórios universais pelos quais todos devemos lutar. O que acontece hoje no Afeganistão é o contrário disso.