No mundo da Justiça, não basta ter certeza. É preciso provar. É aí que esbarra a acusação de racismo contra os assassinos do homem negro espancado até a morte em um supermercado de Porto Alegre. Não há qualquer áudio ou mesmo testemunha que possa endossar a tese de que a cor da pele da vítima teve influência na ação dos seguranças, por mais que saibamos que sim.
Esse é o grande desafio no enfrentamento ao racismo estrutural. Ele, quase sempre, não é explícito. Se traduz no olhar, na escolha de um candidato para uma vaga de emprego, na presunção de culpa e na frase que não se refere ao tema, mas tem nele inspiração e pano de fundo. Por isso, os assassinos serão indiciados e, talvez, punidos, mas não por racismo. Por mais paradoxal que pareça, acusar por algo que não se consegue provar, por mais óbvio que seja, pode significar a impunidade dos réus.
O racismo estrutural deixa marcas profundas na sociedade, mas elas, muitas vezes, não ficam materializadas diante da lei e dos julgadores. Essa é uma falha que o sistema precisa corrigir. É difícil, mas não podemos, por isso, parar de tentar.