O segundo turno será muito curto, com apenas oito programas de televisão até o dia 29 de novembro e uma pandemia que limita eventos e ações públicas. Conversei com candidatos e especialistas em marketing eleitoral para entender como será a disputa daqui para a frente. "É bola ao centro", me disse o coordenador de uma das campanhas, uma referência ao fato de que a dinâmica se alterna completamente, a começar pelos tempos da propaganda, que serão iguais. Os cinco minutos para cada um exigirão dedicação e energia, agora sem o poder de mobilização gerado pelas candidaturas a vereador.
Outra mudança é a possibilidade de debates mais polarizados, apenas entre os dois oponentes. Uma das novidades dos programas de Manuela D'Ávila deverá ser a apresentação de depoimentos de personalidades estrangeiras, entre elas a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, além de inserções com celebridades da cultura nacional. Manuela deve, assim como aconteceu com todos os demais candidatos até agora, deixar as siglas da sua aliança – PCdoB e PT – em segundo plano, para apostar em propostas e valorizar sua própria figura pública. "Vou continuar tomando todos os cuidados em relação à covid-19", garante, afirmando que evitará aglomerações.
Um dos especialistas consultados avalia que uma campanha curta e com votos consolidados torna difícil uma mudança radical da situação, o que aponta para grandes emoções. Um fator que joga a favor de Manuela é o fato de que, por ter aberto boa margem nas pesquisas, acabou empurrando seus adversários para uma disputa pela outra vaga no segundo turno, motivando ataques e desgastes entre eles. Joga contra a candidata do PCdoB e do PT o seu índice de rejeição, 38%, o maior entre todos, o que indica um limite de crescimento.
Já Sebastião Melo tem rejeição mais baixa, 13%, e potencial de composição maior do que teria Nelson Marchezan, desgastado pelas brigas e enfrentamentos nos quatro anos de gestão. Melo deve focar sua estratégia na discussão mais ideológica das propostas. "Vamos comparar projetos", afirma. Presença do Estado versus liberdade econômica deve ser um dos temas abordados. Perguntado se iria nacionalizar a eleição, dando visibilidade para apoios que receberá de fora do Estado, Melo respondeu que estará focado em discutir Porto Alegre.
Os próximos dias serão trepidantes, com a busca da consolidação dos apoios dos candidatos que ficaram de fora. Juliana Brizola, Júlio Flores e Fernanda Melchionna, por exemplo, têm mais afinidades programáticas com Manuela. Já Marchezan, Paim e Valter Nagelstein se aproximam mais de Sebastião Melo. As pesquisas mais recentes indicam, na simulação do segundo turno, uma diferença de dois pontos percentuais entre Manuela e Melo. Importante ressaltar que as estratégias iniciais são pontos de partida e vão sendo alteradas na medida em que as pesquisas e as posturas do adversários vão dando mais nitidez ao contexto. "Vai ser uma campanha dura, mas leal", projeta Sebastião Melo.