De traje e gravata, o presidente Jair Bolsonaro desceu do carro para mais uma das suas entrevistas em frente ao palácio. Era noite. Semblante calmo e fala serena, foi respondendo às perguntas dos repórteres. Mesmo diante das questões mais provocativas, não perdeu o prumo. Em frente à tevê, eu comemoro. Vejo ali um sopro de esperança, uma luz, um sinal de que o presidente sabe falar de forma construtiva. Bolsonaro até sorriu, parecia pensar um pouco antes de responder, buscando um caminho que unia sinceridade e paz. Os minutos foram passando. E ele ali, batendo bola, numa boa. E respondia, e respondia, e respondia. Lá pelas tantas, comecei a achar a entrevista longa demais. Entendi logo a seguir. Talvez mesmo sem dar conta, o presidente era o pescador que pacientemente aguardava a mordida no anzol.
Até que uma pergunta o induziu a falar sobre a Organização Mundial da Saúde. Bolsonaro franziu a testa, entesou o corpo e criticou fortemente a instituição, ameaçando inclusive rompimento se as coisas não fossem do jeito que ele gostaria. Pronto. Ele terminou a resposta e encerrou a entrevista. A manchete estava garantida. E uma boa noite de sono também.