O imbróglio na eleição do Movimento Tradicionalista Gaúcho é, mais do que tudo, uma oportunidade de melhora. Depois de um improvável empate na votação entre duas chapas encabeçadas por mulheres – 530 votos para cada uma – o assunto foi parar na Justiça. O motivo é a dubiedade do artigo 127 do regulamento da instituição, que estabelece o critério para o desempate. "...será considerada eleita a chapa que tiver o candidato mais idoso".
Acontece que uma das candidatas a presidente, obviamente, é a mais idosa – Gilda Galeazzi, com 65 anos. Mas a chapa de Elenir Winck, 61, tem um candidato a suplente do Conselho com 77 anos. Fez-se a confusão. Nesses casos, o mais comum é que se busque o espírito da lei. Mesmo que não seja claro, o mais lógico é que o artigo se refira à cabeça da chapa. Mas isso é assunto para o Judiciário.
Cabe ao MTG, agora, aproveitar o entrevero para aperfeiçoar o seu processo eleitoral, ainda falho se levada em conta a relevância da entidade. Mais de um milhão de gaúchos estão ligados diretamente ao tradicionalismo, que inspirou, só em 2019, mais de 3 mil eventos no Rio Grande do Sul, em outros Estados e também no Exterior.
A eleição de sábado, realizada em Lajeado, foi marcada pela carência de uma organização mais apurada. Transporte pago de eleitores continua sendo uma prática tolerada, não há regras para boca de urna e a venda de bebidas alcoólicas é liberada, para dar três exemplos de evoluções possíveis. Pela sua grandeza e relevância, o tradicionalismo merece, há tempos, um código eleitoral específico. Essa deveria ser uma das primeiras providências da nova gestão, assim que se declare a vencedora. Pela primeira vez, o MTG será encabeçado por uma mulher. Aliás, esse deveria ser o assunto principal da eleição e não uma disputa judicial que deixará mágoas e marcas difíceis de apagar.